No mesmo dia em que o Brasil ultrapassou a marca de 100 mil mortes pela Covid-19, Porto Alegre completou cinco meses e bateu 10 mil infectados desde que o primeiro morador da cidade testou positivo.
A coincidência mostra que a pandemia segue longe de ser controlada. Até este domingo, a capital gaúcha tinha 10.176 casos e 438 óbitos.
Os números de contágio vêm praticamente dobrando a cada mês. No dia 9 de julho, eram 5.839 casos, crescendo 74% em um intervalo de 30 dias. Na mesma data, a cidade tinha 152 mortos pela doença, marca que acelerou 184% no mesmo período.
A perspectiva segue não sendo a das melhores. “É um momento altamente preocupante”, alerta o mestre e doutor em epidemiologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs) Paulo Petry.
A Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco) aponta que entre as 100 mil mortes ocorridas em todo Brasil, cerca de 200 envolveram mulheres grávidas e puérperas, constituindo um recorde mundial de mortes nessa faixa da população. E, entre os cerca de dois milhões daqueles considerados livres da doença, segundo a entidade, há um número muito grande, mas indeterminado, de pessoas com sequelas diversas decorrentes da Covid-19.
Ao todo são aproximadamente três milhões de infectados pelo novo coronavírus no país. No Rio Grande do Sul e Porto Alegre, a faixa etária dos 20 aos 59 anos concentra cerca de 60% dos casos, enquanto 80% das mortes foram de pessoas acima de 60. “Estamos começando a ver mais mortes por Covid-19 de idosos, homens e negros”, detalha Petry.
De acordo com o professor, “os mais jovens estão sendo vetores circulantes e as próprias crianças que são pouco afetadas, mas elas transmitem. Um jovem que não se cuida está colocando em risco as pessoas mais idosas”, lembra.
Além disso, Petry enfatiza que existem comorbidades que podem agravar um quadro de Covid-19: diabetes, doenças cardíacas e obesidade. “E isso é mais comum em pessoas idosas, com um sistema imunológico com maior dificuldade de responder a uma infecção”, explica.
Evolução temporal
Em Porto Alegre, a pandemia também teve uma evolução temporal que demarca quatro fases, sendo a atual a mais crítica. De março até o dia o começo de maio, o crescimento na quantidade de casos era mais baixo. A partir de um pico em 13 de maio, com 58 novos contaminados, o crescimento se acentuou. No dia 5 de junho, o pico de 73 contágios, mostrou um novo período de avanço, atingido a marca de 142 casos no dia 23.
Após esta data, a Covid-19 acelerou em duas semanas e mais que dobrou, chegando a ter 348 novos casos em um único dia, assinalando um novo patamar de contaminação. “Nós temos uma pandemia em ritmos diferentes em diferentes lugares do mundo. E dentro do Brasil houve isso também. O vírus chegou antes pelos principais aeroportos, zonas turísticas e na Amazônia. Mas houve uma evolução tardia e muito violenta aqui”, analisa Petry.