Aras mantém críticas à Lava Jato em reunião com senadores

Procurador-geral da República trava embate com procuradores das forças-tarefas, principalmente com operação de Curitiba

Foto: Roberto Jayme/Ascom/TSE

O procurador-geral da República, Augusto Aras, voltou a criticar a força-tarefa da operação Lava Jato em reunião realizada, na tarde desta quarta-feira, com o Muda Senado, de acordo com relatos de parlamentares que participaram do encontro.

Assim que tomou conhecimento das críticas feitas por Aras, o senador Marcos do Val (Podemos-ES) enviou uma mensagem ao procurador-geral convidando-o para uma reunião de emergência com o grupo Muda Senado, formado por senadores favoráveis à pauta anticorrupção. Aras rapidamente aceitou o convite e conversou com os senadores por cerca de duas horas e meia.

“Ele disse que quer criar uma auditoria para que as forças-tarefas sejam transparentes. Depois comentou, por exemplo, que a Lava Jato de São Paulo é sem controle, uma vez que o próprio procurador escolhe quem vai investigar. E ele acha que isso deve ser feito via sorteio”, disse do Val.

O senador relatou, também, que Aras alertou sobre a existência de um grupo que não concorda com as posições dele e, por isso, tentado desconstruir a imagem do procurador-geral.

“Ele finalizou a reunião dizendo que era lavajatista, e que a ideia da criação da Unac (Unidade Nacional de Combate à Corrupção) não é sua”, acrescentou do Val. De acordo com o senador, Aras disse que o órgão não vai servir para “substituir” a Lava Jato.

“O procurador-geral afirmou que quer transparência e compartilhamento de informações que possam ser muito bem-vindas em outros processos, até porque, segundo ele, uma parte fica opaca”, afirmou o senador Major Olimpio (PSL-SP), que também esteve presente na reunião.

Olimpio informou, também, que Aras explicou o termo lavajatismo, usado por ele dias atrás. “Ele disse que o termo é superlativo, hipertrofiado, que não vem no sentido pejorativo da palavra.”

Já Álvaro Dias (Podemos-PR) relatou que os senadores propuseram dois compromissos para com o PGR na audiência: preservação dos objetivos da Lava Jato somados à ampliação da estrutura no combate à corrupção em todas as frentes e o não questionamento de sentenças já consagradas pela força-tarefa.

O PGR afirmou, em webconferência na terça-feira, que a operação de Curitiba funciona como uma espécie de ‘caixa de segredos’, afirmação repudiada pelos procuradores.

“A ilação de que há caixa de segredos no trabalho dos procuradores da República é falsa”, dizem os procuradores em nota, negando também a existência de documentação oculta.

Saiba mais

Aras declarou, na terça, que o MPF dispõe, em todo o sistema, 40 terabytes, e a força-tarefa de Curitiba, sozinha, 350. “São 38 mil pessoas com seus dados depositados, que ninguém sabe como foram escolhidos. Não se pode imaginar que uma unidade se faça com segredos, com caixa de segredos”, afirmou.

Durante o debate, na terça, o procurador-geral também retomou a polêmica sobre o pedido de demissão, em junho, de três procuradores da Lava Jato com atuação na Procuradoria-Geral da República (PGR). O chefe do MPF disse que “tinha mais procurador que era necessário” da Lava Jato em Brasília. “Hoje temos tanta sobra que a Força-tarefa de Curitiba consome mais recursos financeiros que mais de 20 unidades da federação”, decretou. Aras, porém, reconheceu os ganhos que a operação trouxe para o combate à criminalidade e à corrupção no Brasil.

Os procuradores garantem que não há documentos secretos ou insindicáveis: “Os documentos estão registrados nos sistemas eletrônicos da Justiça Federal ou do MPF e podem ser acessados em correições ordinárias e extraordinárias”, disseram.

“É falsa a suposição de que 38 mil pessoas foram escolhidas pela força-tarefa para serem investigadas, pois esse é o número de pessoas físicas e jurídicas mencionadas em relatórios de inteligência financeira encaminhados pelo Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) ao MPF, a partir do exercício regular do seu trabalho de supervisão de atividades suspeitas de lavagem de dinheiro”, acrescentaram.

Moro nega ilicitudes

O ex-ministro da Justiça Sergio Moro também afirmou hoje desconhecer “segredos ilícitos no âmbito da Lava Jato”. “Ao contrário, a Operação sempre foi transparente e teve suas decisões confirmadas pelos tribunais de segunda instância e também pelas Cortes superiores, como STJ e STF”, escreveu Moro no Twitter.