O Ministério Público Federal (MPF) diz que o suposto esquema de lavagem de dinheiro envolvendo o senador José Serra teria três camadas e que o parlamentar teria recebido, ao menos, R$ 4,5 milhões em propina da Odebrecht entre 2006 e 2007.
A Polícia Federal (PF) fez uma operação na casa de Serra, em São Paulo, depois de o parlamentar ter sido denunciado por lavagem de dinheiro pela força-tarefa da Lava Jato de São Paulo.
“Especificamente, JOSÉ SERRA praticou, entre outros, três crimes de lavagem de ativos por ter participado, de forma consciente e voluntária, da primeira (por meio do uso da CIRCLE TECHNICAL, de JOSÉ AMARO), da segunda (por meio do uso da DORTMUND INTERNATIONAL) e da terceira camadas de ocultação e dissimulação (por meio de transferências para a FICUS CAPITAL e para a CITADEL FINANCIAL ADVISORY)”, diz a denúncia.
Primeira camada
Serra teria solicitado R$ 4,5 milhões à empreiteira e os valores deveriam ser pagos por meio da offshore chamada Circle Technical Company Inc. De acordo com a denúncia, a empresa era controlada por José Amaro, amigo de Serra.
“Vê-se, portanto, que uma grande gama de pagamentos, feitos pela ODEBRECHT à CIRCLE em curto período e de modo fracionado, embora estivessem vinculados nos sistemas de contabilidade da empreiteira a “VIZINHO”, codinome de JOSÉ SERRA, e tivessem sido feitos por sua solicitação e em seu favor, tiveram de fato, como destinatário imediato, a pessoa de JOSÉ AMARO RAMOS. E neste diapasão, por envolverem valores de natureza espúria, relacionada a crimes de corrupção (notadamente a passiva, na modalidade solicitar) e de cartel, e por visarem a ocultá-la e a dissimulá-la, nada mais foram que atos de lavagem de ativos”, diz denúncia.
Segunda camada
Nesta fase, o MPF diz que os valores recebido pela empresa Circle da Odebrecht foram pulverizados e que, “embora os valores respectivos tenham sido movimentados pelo sistema financeiro, eles seguiam sob controle de José Amaro”. Algumas das transferências foram realizadas à offshore Dortmund, que, segundo o MPF, é controlada pela filha de José Serra, Verônica Allende Serra.
“Assim, ao JOSÉ AMARO RAMOS realizar, a partir de contas suas, transferências vultosas em favor da DORTMUND, entre 2006 e 2007, o que se praticava eram atos de ocultação e dissimulação da natureza espúria dos valores que recebera da ODEBRECHT no período, assim, s eus reais destinatários: JOSÉ SERRA e sua filha VERÔNICA SERRA”, diz denúncia do MPF.
Segundo o texto, a offshore Dortmund serviu como uma segunda camada de lavagem de dinheiro, permitindo o recebimento de “936.000,00 euros, oriundos de três empresas de JOSÉ AMARO RAMOS, que, por sua vez, foi beneficiado, no período, por valores transferidos a partir de offshores controladas pela ODEBRECHT”.
Segundo a denúncia, o dinheiro era transferido de uma offshore da companhia para outra de José Amaro, amigo de Serra.
Terceira camada
Segundo o MPF, a Dortmund enviou ao Banco Arner um pedido de transferência U$ 25.000,00 à Ficus Capital, empresa atuante no mercado financeiro internacional, com Francisco Ravecca como um dos sócios.
O MPF diz que “assim, parte dos valores – oriundos da ODEBRECHT – que ingressaram na conta da DORTMUND por meio de transferências realizadas a partir de contas de JOSÉ AMARO foram remetidos a FRANCISCO RAVECCA”.
A denúncia aponta que, em 2014, a Dortmund liquidou os valores existentes na conta. “Dessa forma, valores transferidos a JOSÉ AMARO RAMOS, pela ODEBRECHT, por solicitação de JOSÉ SERRA e tendo este como beneficiário final, foram remetidos, a partir de diversas operações, ao controle de VERÔNICA SERRA, filha do referido agente político, sendo, ao fim, liquidados para outras contas, em uma terceira camada de dispersão patrimonial, integrante, a toda evidência, de uma cadeia de lavagem de ativos”, diz a denúncia.
O R7 tentou contato com os citados.