MP estima que Capitão Adriano tenha repassado mais de R$ 400 mil a contas de Queiroz

Ex-assessor é apontado como operador de "rachadinha" no gabinete de Flávio Bolsonaro

Foto: Reprodução / R7

O Ministério Público no Rio de Janeiro (MP-RJ) estima que o miliciano Adriano Magalhães da Nóbrega, o Capitão Adriano, possa ter transferido mais de R$ 400 mil para as contas de Fabrício Queiroz, ex-PM apontado como operador financeiro de organização criminosa instalada no gabinete do senador Flávio Bolsonaro quando deputado estadual no Rio.

De acordo com o jornal O Estado de S.Paulo, a indicação consta na decisão do juiz Flávio Nicolau, da 27ª Vara Criminal do Rio, que mandou prender Queiroz e a companheira Márcia Oliveira de Aguiar (ainda foragida). O ex-assessor do filho “01” do presidente Jair Bolsonaro recebeu voz de prisão, na manhã dessa quinta-feira, em uma casa em Atibaia (SP) de propriedade de Frederick Wassef, advogado de Flávio. Queiroz segue na Penitenciária de Bangu 8, no Rio, onde aguarda o julgamento de um habeas corpus movido pela defesa.

Adriano morreu baleado pela Polícia da Bahia, em fevereiro, no município de Esplanada. Ele era apontado por investigadores do Rio como chefe do Escritório do Crime, grupo de pistoleiros da milícia na zona Oeste da capital fluminense. Quando ainda era policial militar – chegou a ser capitão do Bope -, Adriano trabalhou com Queiroz no batalhão de Jacarepaguá, também na zona Oeste. Ele respondiam juntos a um homicídio registrado como “auto de resistência”.

A ex-mulher do miliciano, Danielle Mendonça da Nóbrega, e a mãe dela, Raimunda Veras Magalhães, eram empregadas no gabinete de Flávio Bolsonaro na Assembleia Legislativa do Rio. Juntas as duas receberam R$ 1 milhão em salários e devolveram pelo menos R$ 202 mil em transferências identificadas para a conta de Queiroz. O MP suspeita que o montante tenha passado de R$ 400 mil.

Segundo dados de geolocalização obtidos pelos investigadores a partir do rastreio do celular de Raimunda, não há indícios de que ela tenha aparecido nas cercanias da Alerj no período em que ocupou a função pública.

Na representação enviada à Justiça para deflagração da Operação Anjo – que mirou ainda ex-assessores da Alerj, um servidor afastado e um advogado – o Ministério Público do Rio de Janeiro indicou que há registros nos dados bancários de Queiroz indicando que uma pizzaria administrada pela mãe de Adriano e uma outra pizzaria administrada pelo próprio miliciano, transferiram R$ 69,2 mil para o suposto operador financeiro de Flávio Bolsonaro.

“Não se pode perder de vista que no período de janeiro de 2016 a janeiro de 2017 foram efetuados 17 depósitos em espécie na conta corrente de Fabrício Queiroz, totalizando R$ 91.796, na agência Rio Comprido do Banco Itaú, localizada na mesma rua dos restaurantes administrados por Raimunda Veras Magalhães”, registra ainda a decisão de Nicolau.

Orientações e “influência” na milícia
O suposto repasse de R$ 400 mil de Adriano para Queiroz é apontado como um de dois aspectos da relação de Queiroz com grupos paramilitares, ligado à parte econômica, em razão de um suposto enriquecimento associado à milícia carioca. O outro aspecto destacado pelos investigadores é político, levantado a partir de suposta “influência” exercida entre os grupos de milicianos pelo ex-assessor.

Em mensagens trocadas com a companheira, Márcia Aguiar, Queiroz se compromete a “interceder pessoalmente” junto a milicianos em favor de um homem que pede a ajuda dele após receber ameaças de paramilitares no Itanhangá, também na zona Oeste carioca.

Os promotores também apontaram que em dezembro de 2019, Queiroz, a companheira e o advogado Luiz Gustavo Botto Maia, também ligado ao filho mais velho do presidente, orientaram a mãe do Capitão Adriano, a ficar “escondida”.