Transporte público não é fator de risco na pandemia, sustenta ATP

Entidade divulgou protocolo de medidas para garantir embarque seguro de passageiros em Porto Alegre

Foto: Alina Souza/CP

A Associação dos Transportadores de Passageiros de Porto Alegre (ATPPOA) informou, nesta terça-feira, que, desde o início da pandemia de coronavírus, nenhum colaborador teve de ser afastado por atestado de Covid-19. A entidade, baseada em uma pesquisa realizada com parte dos funcionários das empresas e sustentada por outros estudos que vêm ocorrendo no Brasil e no mundo, considera que, ao contrário do que se dizia no início de março, o transporte coletivo não representa um risco considerável de infecção. Foi divulgado, ainda, um protocolo de 14 medidas para garantir o embarque seguro de passageiros nos ônibus da cidade.

Em uma pesquisa feita com o Sest/Senat, a Associação testou 5% da população ativa – 72% cobradores e 28% motoristas -, que, desde início da pandemia, atenderam individualmente, em média, 14 mil pessoas. Foram 90 testes realizados, com nenhum caso confirmado de coronavírus. Até o dia 12 de junho, também não houve afastamentos por atestado de Covid-19, enfatizou o engenheiro de Transporte da ATP, Antônio Augusto Lovatto.

Ele citou, por exemplo, uma pesquisa feita com 1,3 mil pessoas com coronavírus e divulgada no início de maio pelo governador de Nova York, Andrew Cuomo, mostrando que 66% dos infectados no estado haviam ficado em casa e somente 4% usado o transporte coletivo. Houve ainda um trabalho elaborado pela CityLab, que, entre maio e junho, não encontrou presença de Covid-19 nos transportes da França e do Japão. Outro estudo mencionado é o de prevalência do vírus conduzido pela Universidade Federal de Pelotas (UFPel), que em maio informou que há um infectado para cada 500 habitantes.

A ATP ainda explicou todas as medidas que fazem porte do protocolo de embarque seguro, que foram ajustadas ao longo da pandemia. Elas envolvem a ventilação de todos os ônibus com vidros abertos, a higienização completa dos coletivos, utilizando produtos de limpeza hospitalar, nas garagens e no Centro de Porto Alegre. Também ocorreu a obrigatoriedade do uso de máscaras, a disponibilização de álcool gel, a aplicação de vacina trivalente para todos os colaboradores no mês de abril, a medição de temperaturas nas garagens e a testagem para Covid-19.

Do ponto de vista da tecnologia, a Associação informou que passou a estimular o uso do cartão TRI, a recarga expressa – disponível em até 30 minutos – e o uso do GPS, que permite que a pessoa saiba o horário de se dirigir à parada e evite aglomerações. O protocolo envolve ainda a fiscalização e auditorias realizadas pela EPTC, a elaboração de um manual de prevenção da Covid-19 e campanhas de prevenção.

Ainda no início da pandemia, a ATP também afastou do trabalho pessoas com mais de 60 anos, diabéticos e gestantes. Nos primeiros 30 dias, houve entre 20 e 40 afastamentos, por precaução, de funcionários com sintomas respiratórios, como rinite, sinusite ou pneumonia. “Até o momento, é um cenário de muita tranquilidade com relação aos trabalhadores”, disse o médico do trabalho Ricardo Moreira Martins. Durante os três meses de pandemia, foram transportados 12,3 milhões de passageiros, 40% do público no mesmo período no ano passado. Ao todo, 700 ônibus estiveram em operação, 50% do total no período em 2019.

Mediação não prevê Carris assumindo linhas do setor privado 

A presidente da ATP, Stamatula Vardaramatos, também disse, nesta terça, que a possibilidade de a Carris assumir as linhas de ônibus administradas pelo setor privado e afetadas pela pandemia de Covid em Porto Alegre não é mencionada, em nenhum momento, na mediação promovida pelo Poder Judiciário com a Prefeitura com o objetivo de minimizar a crise no transporte coletivo. A alternativa de a empresa pública “encampar” parte das linhas é recomendada pelo presidente da Câmara de Vereadores, Reginaldo Pujol (DEM).

“A Carris é deficitária como nós nesse momento. Nós temos a possibilidade da medida 936 (Programa Emergencial de Manutenção do Emprego e da Renda, do governo federal), que estamos usando, a Carris, não”, explicou Stamatula. De acordo com a presidente, não há sentido em pensar nessa possibilidade porque a Carris está sendo subsidiada, o que pode representar um custo mais elevado do que o transporte privado.

O engenheiro de Transporte da ATP, Antônio Augusto Lovatto, disse que essa medida tende a custar muito mais para a população de Porto Alegre, já que, nos últimos anos, a Companhia recebeu aproximadamente R$ 35 milhões por ano e opera com um custo por quilômetro 22% maior do que as linhas das empresas do setor privado. Ele citou ainda que a Carris dispõe de 270 ônibus, enquanto que a ATP é responsável por 1,2 mil.