Congresso decide divulgar números paralelos de Covid-19 no Brasil

Segundo Ministério da Saúde, vai ser lançada uma nova plataforma interativa, nesta semana, com informações sobre a doença

Foto: Roque de Sá/Agência Senado

O Congresso Nacional vai passar a apurar os dados de Covid-19 no País, independentemente do governo. O presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), deu aval à contagem paralela em reunião de líderes da Casa, nesta segunda-feira. Os dados devem ser divulgados pela comissão mista de deputados e senadores criada em abril para acompanhar as ações do governo após o decreto de calamidade pública.

Mudanças feitas pelo Ministério da Saúde na publicação do balanço da pandemia reduziram a quantidade e a qualidade dos dados disponíveis. Em resposta à decisão do governo de restringir o acesso a dados sobre a pandemia de Covid-19, os veículos O Estado de S. Paulo, Folha de S.Paulo, O Globo, Extra, G1 e UOL decidiram formar uma parceria e trabalhar de forma colaborativa para buscar as informações necessárias nos 26 estados e no Distrito Federal.

Após polêmicas, o Ministério da Saúde divulgou uma errata sobre os dados: “Transparência é fundamental no enfrentamento dessa pandemia. Defendê-la é proteger a democracia”, afirmou o líder do MDB no Senado, Eduardo Braga (AM), que pediu a apuração paralela dos dados no Congresso ao lado do líder da Rede na Casa, Randolfe Rodrigues (AP).

Também no Senado, a líder do Cidadania, Eliziane Gama (MA), pediu a instalação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) sobre os dados do novo coronavírus no Brasil. Além disso, parlamentares de oposição entraram com uma ação no Supremo Tribunal Federal (STF) para garantir a divulgação diária, até às 19h30min, de dados pelo Ministério da Saúde. O Ministério Público Federal abriu procedimento extrajudicial para apurar o atraso e a omissão na divulgação dos números da doença.

Divergência

Também hoje, o Ministério da Saúde divulgou nota para justificar a divergência dos números sobre casos e mortes de Covid-19 e relatou que busca a elaboração e a disponibilização de dados “fidedignos” sobre o novo coronavírus. Segundo a pasta, vai ser lançada uma nova plataforma interativa, nesta semana, com informações sobre a doença.

Depois da polêmica em torno da mudança no sistema de contagem de mortos e infectados e no horário da divulgação, o ministério divulgou no domingo dois dados discrepantes sobre a situação da doença no Brasil. Primeiro, informou que foram registrados 1.382 óbitos decorrentes da doença em 24 horas. Depois, o número caiu para 525.

Nesta segunda, o Ministério justificou que “corrigiu duplicações e atualizou os dados divulgados sobre casos e óbitos”. “Em especial, podem ser citadas a situação de Roraima, em que haviam sido publicados 762 óbitos e, após verificação do Ministério da Saúde, o número foi consolidado em 142”, informou a pasta no texto. “Assim, o último boletim de 24h deve ser considerado 18.912 casos e 525 óbitos novos. O total de casos no país é de 691.758 e de óbitos 36.455 ao longo da pandemia”, completou o ministério.

A situação gera críticas e preocupa especialistas e autoridades. Recentemente, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, um dos principais aliados do presidente Jair Bolsonaro, citou o País como mau exemplo na condução da pandemia.

No último final de semana, o empresário Carlos Wizard desistiu de assumir a Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos e deixou o cargo de conselheiro do Ministério da Saúde após as declarações que deu sobre o plano de recontar os mortos pela Covid-19 no País.

Wizard disse ter a informação de que havia fraude e dados inflados em balanços estaduais, repassada por uma “equipe de inteligência militar” – mas nada detalhou ou quantificou. “Peço desculpas por qualquer ato ou declaração de minha autoria que tenha sido interpretada como desrespeito aos familiares das vítimas da Covid-19 ou profissionais de saúde que assumiram a nobre missão de salvar vidas”, afirmou Wizard após confirmar a desistência em assumir o posto.