Collor sobre Bolsonaro: “se continuar do jeito que está, não dará certo”

Em entrevista à Rádio Guaíba, ex-presidente Fernando Collor de Mello analisou erros de sua gestão, como o confisco de poupanças em 1990

Ex-presidente Fernando Collor de Mello concedeu entrevista à Rádio Guaíba | Foto: Jefferson Rudy/Agência Senado
Ex-presidente Fernando Collor de Mello concedeu entrevista à Rádio Guaíba | Foto: Jefferson Rudy/Agência Senado

O senador Fernando Collor de Mello (PROS-AL) teceu críticas à forma como o presidente Jair Bolsonaro governa o país. O ex-presidente da República observou pouca disposição do atual chefe de Estado para dialogar. As declarações foram feitas em uma entrevista ao programa Bom Dia, da Rádio Guaíba, nesta quarta-feira. Collor avaliou a gestão Bolsonaro, muitas vezes comparada ao seu próprio governo, entre 1990 e 1992. O alagoano teve o mandato abreviado por uma renúncia em meio a um processo de impeachment.

Citando seu próprio exemplo, o ex-presidente disse acreditar que Bolsonaro não terminará seu mandato. No entanto, não soube apontar como isso aconteceria. O senador clamou por unidade entre o Palácio do Planalto e a sociedade, bem como mais diálogo com os governadores e a classe política. Para Collor, não será uma surpresa se Bolsonaro cair antes de 2022. “Não será uma surpresa [a perda do mandato]. Se continuar do jeito que está, não tem como dar certo. Se não construir a base parlamentar sólida no Congresso Nacional, não só este governo, nenhum governo se sustenta”, citou. “É um governo que assente com todas aquelas manifestações de fechar o Supremo Tribunal Federal, de fechar o Congresso Nacional. Isso não pode, isso não pode acontecer”, prosseguiu o ex-presidente.

Collor disse ainda que Bolsonaro precisa melhorar sua postura como presidente. “Temos que parar com isso, essa marcha da insensatez. Temos que parar com ela. O presidente da República tem que chamar o feito à ordem, acordar, assumir. Se ele não tem aptidão para o exercício de seu mandato, ele tem que, de alguma forma encontrar uma saída, se cercar de pessoas mais ajustadas que possam orientá-lo”, sustentou o senador. “É uma postura que contraria totalmente as medidas, os atos e as ações que ele vem incitando ao longo desse último ano e meio”, completou Collor.

Lembranças do governo Collor

Com uma nova política de redes sociais, o senador vem respondendo a internautas que o cobram sobre erros de seu governo. Um dos pontos mais atacados é o confisco das poupanças, em 1990. Collor reconheceu o impacto da medida, mas justificou ser, na época, a única possibilidade vista para controlar a inflação e o excesso de liquidez da moeda. “Foi uma medida excepcional, num momento excepcional. Coube a mim, como primeiro presidente eleito depois do jejum democrático que nós fomos submetidos, de tomar essa medida. Naturalmente, essa medida causou sofrimento, causou dissabor, causou constrangimento a muitos”, assumiu. “Eu venho lamentando que isso tenha acontecido e pedido perdão e desculpas a essas pessoas pelo desassossego que essa medida trouxe para um certo número de famílias e de pessoas que sofreram com esse bloqueio dos ativos”, pontuou.

Ao ser questionado sobre os legados positivos de seu governo, Collor disse que seu mandato rompeu com o passado “complexado do Brasil colônia”. O ex-presidente afirmou que o país se abriu ao mundo, principalmente na economia. Observando o cenário das eleições de 1989, Fernando Collor de Mello ponderou que uma disputa com o gaúcho Leonel Brizola (PDT) poderia ter sido mais difícil em comparação ao segundo turno com Luiz Inácio Lula da Silva (PT).


Ouça a íntegra da entrevista: