Na véspera do Dia do Trabalhador, celebrado nesta sexta-feira, o presidente Jair Bolsonaro lamentou que “grande parte da população” esteja proibida de trabalhar, por causa do isolamento social e do fechamento do comércio em função da pandemia da Covid-19. Ele voltou criticar a adoção dessas medidas e avaliou que elas não fizeram efeito na contenção da curva de contaminação.
“Governadores e prefeitos que tomaram medidas bastante rígidas não achataram a curva, a curva tá aí. Partindo do princípio que o número de óbitos é verdadeiro”, alfinetou. Bolsonaro também citou a imprensa que, segundo ele, quer colocar no colo dele “a responsabilidade por mortes” pela Covid-19.
“Eu já disse, 70% da população vai ser infectada [pelo novo coronavírus]. Pelo que parece, pelo que estamos vendo agora, todo o empenho para achatar a curva praticamente foi inútil. Agora, efeito colateral disso: desemprego. O povo quer voltar a trabalhar. Todo mundo sabe que, quanto mais jovem, menos problemas de consequência danosa em sendo infectado pelo vírus”, afirmou o presidente durante a live semanal, transmitida pelo Facebook.
Medidas de isolamento social, como fechamento de comércio não essencial, suspensão de aulas presenciais e aglomerações foram as principais ações defendidas pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e adotadas pelas autoridades sanitárias de vários países como forma de conter o avanço da Covid-19. O Brasil contabiliza mais de 85,3 mil casos oficiais notificados e quase 6 mil mortes pela novo coronavírus, segundo atualização mais recente do Ministério da Saúde.
São Paulo
Bolsonaro questionou, em especial, os óbitos em São Paulo, estado mais afetado pela doença. “Na dúvida sobre a causa da morte [o governo estadual] bota coronavírus para inflar o número para fazer uso político disso”, declarou.
Em mais uma crítica pública, Bolsonaro acusou o governador João Doria (PSDB) de usar a pandemia de forma política. “É o governador gravatinha de São Paulo fazendo ‘politicalha’ em cima de mortos, zombando de familiares que tiveram seus entes queridos que morreram por vírus ou outra causa”, afirmou.
Economia
Sobre o desemprego causado pela pandemia, o presidente citou que “milhões” de brasileiros já perderam trabalho e que a volta da economia não vai ser “rápida”.
“Só não está uma desgraça maior porque fizemos esse plano emergencial para pagar os R$ 600 para as pessoas”, lembrou [o valor inicial proposto pelo governo, elevado pelo Congresso, era de R$ 200]. Bolsonaro ainda destacou que cerca de 30 milhões de cidadãos já receberam o benefício, mas pontuou que “muita gente se inscreveu de má-fé”.
Nomeação na PF
Durante a live, Bolsonaro voltou a defender a nomeação de Alexandre Ramagem como diretor-geral da Polícia Federal e apelou para que o Supremo Tribunal Federal (STF) reveja a decisão que suspendeu a indicação e a posse do delegado no cargo.
“Eu faço um apelo ao ministro do STF, aos demais ministros, não é por mim, é pela vida pregressa desse homem, pelo seu passado, por tudo aquilo que ele já fez pela pátria, no combate à corrupção, no combate à criminalidade , que reveja essa situação para que ele possa assumir”, disse o presidente, depois de ler um currículo de Ramagem na transmissão.
Na manhã de ontem, o ministro Alexandre de Moraes decidiu suspender o decreto de nomeação e a posse de Alexandre Ramagem no cargo. Na decisão, o ministro citou declarações do ex-ministro da Justiça Sergio Moro, que ao deixar o cargo na semana passada acusou o presidente Jair Bolsonaro de tentar interferir politicamente na PF. Ramagem é próximo da família do presidente e atuou na segurança pessoal dele após a vitória em segundo turno das eleições.