Pesquisadores taiwaneses e australianos publicaram um estudo, nessa terça-feira, sobre a descoberta da primeira mutação significativa do novo coronavírus em uma amostra colhida na Índia, em 27 de janeiro. Esse resultado pode indicar uma nova dificuldade no desenvolvimento de uma vacina para Covid-19.
De acordo com pesquisas iniciais, o novo coronavírus tinha menos capacidade de mutação, se comparado a outros tipos de vírus, como o da SARS, mas essa descoberta demonstra que, ainda assim, o novo coronavírus é mutável, tornando ineficientes vacinas desenvolvidas para combater apenas o vírus original.
Os pesquisadores apontaram que a mutação se mostrou menos capaz de se ligar ao receptor ACE2 nas células humanas, característica que dá ao vírus causador da Covid-19 mais aptidão a contaminar e se espalhar no corpo humano.
A descoberta, segundo os pesquisadores, pode soar o alarme para quem trabalha no desenvolvimento de uma vacina para a Covid-19. “Todos os esforços atuais podem se tornar inúteis em futuras pandemias, caso novas mutações sejam encontradas”, disse um porta-voz em entrevista à Newsweek.
Também em declarações à revista britânica, a professora de imunologia da Universidade de Sussex, na Inglaterra, Jenna Macciochi comentou que, apesar de demonstrar um aspecto importante da virologia, que deve ser monitorado durante a pandemia, o estudo não trouxe grandes novidades.
“Segundo o estudo, a taxa de mutação é bem baixa, particularmente na proteína spike, que é o alvo de diversas vacinas em desenvolvimento”, acrescentou.
Macciochi explicou também que como o novo coronavírus se espalha com relativa facilidade, existe menor pressão do processo de seleção natural para que mutações ocorram: “Pequenas mutações são esperadas de qualquer vírus. A mutação descoberta parece reduzir a ligação com o ACE2, o que significa menor virulência, que pode ser sinal de uma menor habilidade para infectar. Mas, como esse é um relato isolado, isso não significa, necessariamente, que as tentativas de vacina são inúteis”.
Amostras do vírus
Outra descoberta da pesquisa é que as amostras coletadas no Brasil, na Austrália, na Coréia do Sul, na Itália e na Suécia se agruparam, juntamente com duas dos Estados Unidos, sugerindo que os casos podem ter relação entre si.
As informação foram divulgada no site bioRxiv, o que significa que o material não passou pela criteriosa avaliação de outros cientistas, necessária para que estudos sejam divulgados em publicações científicas de renome. O objetivo de divulgar a pesquisa agora é propor mais rapidamente debates sobre um tópico, o que pode ajudar em um momento de pandemia, em que as informações vão mudando, frequente e rapidamente.