“Pessoas não entenderam a realidade”, lamenta diretor, sobre aglomerações no Mercado Público

Infectologista adverte que vírus ainda circula e que cidade pode verificar aumento de casos, em duas semanas, com aumento da circulação

Foto: Ricardo Giusti/CP

O diretor de fiscalização da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico (SMDE) de Porto Alegre, Denis Carvalho, lamentou hoje o comportamento da clientela do Mercado Público, sobretudo nessa quinta, véspera de feriadão de Páscoa. “A avaliação é de que as pessoas não entenderam a realidade ainda e vieram fazer compras com a família inteira, com idosos, sendo que (elas) podem ser feitas por apenas um. Não havia necessidade. Isso incentivou o acúmulo de filas e concentração…”, observou, sobre a aglomeração de público em frente às bancas, dentro do Mercado, em meio ao risco de contágio pelo novo coronavírus.

“A gente pede que as pessoas tenham responsabilidade e entendam o período crítico que estamos vivendo… Não só cobrem do poder público, mas assumam a responsabilidade de tentar ao máximo evitar o coronavírus e realizem o isolamento social ao máximo, saindo somente em caso de necessidade. Quem puder que fique em casa para podermos superar a crise o quanto antes”, desabafou.

Sobre o cancelamento da tradicional Feira do Peixe, que impactou o Mercado Público, Denis Carvalho reconheceu que o público aglomerou-se dentro do prédio. “Foi uma dúvida a decisão, mas avaliação final é de que a Feira do Peixe estimula mais ainda o comparecimento de pessoas. A decisão de não realizar foi melhor e acertada”, assegurou.

Carvalho lembrou que, como medida para evitar a aglomeração, foram criadas três pequenas feiras para descentralizar o atendimento, citando uma no próprio Largo Glênio Peres e outras duas nos bairros Restinga e Vila Nova, em parceria com a Associação dos Pescadores e Piscicultores do Extremo Sul.

O diretor de fiscalização da SMDE destacou a adoção do controle de entrada no Mercado Público. “Durante a semana fizemos um controle da fila para tentar colocar não mais do que 150 pessoas dentro do Mercado Público. Teve momentos de grande público concentrado nas peixarias, o que dificultou nosso trabalho”, explicou.

Nessa quinta, apontada como o dia de maior afluência de público, a fiscalização manteve apenas um portão aberto. Nesta Sexta-Feira Santa, o movimento caiu em relação ao dia anterior, sem ocorrência de fila externa, exceto antes da abertura do atendimento. Dois portões foram liberados ao público. Fiscais da SMDE e o efetivo da Guarda Municipal controlaram o acesso.

Infectologista adverte que vírus ainda circula

“O vírus está circulando. Ele não foi embora, ele está aqui….”, alertou o infectologista André Luiz Machado da Silva, do Hospital Nossa Senhora da Conceição. “Tende a ocorrer o aumento de casos (em Porto Alegre). É muito provável que ocorra um impacto de novos casos em duas semanas considerando que começou a ocorrer um descuido por parte da população em frequentar ambientes aglomerados e povoados”, acrescentou.

Segundo o infectologista, o risco que envolve a infecção ocorre em qualquer situação de aglomeração onde não seja respeitado um espaço de, pelo menos, um metro e meio entre as pessoas. “É um vírus de transmissão basicamente respiratória, por gotículas. Quem espirra, fala e tosse libera as gotículas potencialmente infectadas no ar… Se não existe o distanciamento social, a pessoa pode ter o contato com o vírus, independente de qual situação seja na fila do supermercado, na farmácia, no restaurante”, esclareceu.

Ele recomendou o uso da máscara independente de ser de pano ou descartável, tecido ou não tecido. “O objetivo é que ela funcione como uma barreira mecânica, diminuindo a eliminação dos perdigotos, da saliva… É claro que essas máscaras de tecido não têm um poder de filtragem tão significativo, mas elas já atuam como uma barreira, diminuindo a circulação do vírus nestes ambientes mais aglomerados. É uma estratégica importante”, frisou. “Há um número crescente e significativo de portadores do coronavírus, mas que não manifestam sintomas. A máscara atenuaria neste caso a disseminação do vírus que tem uma transmissibilidade muito maior”, disse.

De acordo com o médico, o período de isolamento social serve para que as pessoas mudem os hábitos de vida. “O que está acontecendo no mundo com a pandemia serve para que as pessoas modifiquem os hábitos, os comportamentos”, considerou. “As pessoas devem colocar na rotina de vida a questão de manter a adequada higienização das mãos, fazer a limpeza das mãos com água, sabão e álcool a 70%, respeitar o espaço do próximo e não ter contato tão próximo do outro, manter o uso da máscara… Isso deve ser incorporado no estilo de vida e no comportamento das pessoas”, recomendou.