Médico pede respeito a Bolsonaro após citação no Twitter em meio a divergências sobre a cloroquina

Presidente acusou David Uip de esconder ter sido curado com doses do medicamento

Foto: Governo do Estado de São Paulo / Divulgação

Mencionado em um tuíte do presidente Jair Bolsonaro, na manhã desta quarta-feira, o infectologista David Uip – coordenador do centro de contingência do coronavírus do governo de São Paulo, que se curou da Covid-19 –, respondeu a publicação durante entrevista coletiva. A polêmica consiste no tratamento à doença com uso da cloroquina. O médico começou a fala “lamentando” que haja pessoas preocupadas com o tratamento pessoal dele, mas direcionou a crítica ao presidente.

“Presidente, eu respeitei o seu direito de não revelar o seu diagnóstico (Bolsonaro não mostrou seu exame negativo para Covid-19), respeite o meu direito de não revelar o meu tratamento. Eu nunca revelei tratamento dos meus pacientes, eu nunca revelei a doenças dos meus pacientes sem ser autorizado. Então, presidente, por favor, me respeite e respeite o meu direito à privacidade”.

Mais cedo, Bolsonaro escreveu na rede social: “Cada vez mais o uso da cloroquina se apresenta como algo eficaz. Dois renomados médicos no Brasil se recusaram a divulgar o que os curou da Covid-19. Seriam questões políticas, já que um pertence à equipe do governador de SP?”.

E emendou: “Acredito que eles falem brevemente, pois esse segredo não combina com o Juramento de Hipócrates que fizeram. Que Deus ilumine esses dois profissionais, de modo que revelem para o mundo que existe um promissor remédio no Brasil”.

Além de Uip, o outro médico a quem Bolsonaro se referiu é o cardiologista Roberto Kalil FIlho, do Hospital Sírio-Libanês e do Instituto do Coração do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP (InCor).

Dória: ataques partiram do ‘gabinete do ódio’

O governador de São Paulo, João Doria, lembrou ter sido Uip, em conversa com o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, que sugeriu a distribuição da cloroquina em toda a rede pública. O infectologista ressaltou que o uso do medicamento depende de prescrição médica, deve ser feito em hospital e com consentimento do paciente.

“Nada mudou, a cloroquina, desde a semana passada, está indicada para pacientes internados, desde que prescrita por médicos, com aceite formal no papel assinado pelo paciente. Temos uma enorme experiência com cloroquina. Usamos a cloroquina há muitos anos no tratamento da malária. É uma droga importante, com efeitos colaterais não desprezíveis. É um medicamento que deve ser utilizado sob prescrição e observação médica”, completou o governador.

Doria disse que os ataques aos médicos partiram “mais uma vez, sob orientação do dito gabinete do ódio, em Brasília”, a fim de “destruir a reputação de pessoas”. “Não foi nenhum médico no Brasil que afirmou por várias vezes que a gravíssima epidemia do coronavírus era uma ‘gripezinha’ ou um ‘resfriadozinho’. Nenhum brasileiro ouviu isso de um médico, portanto, respeito com os médicos no Brasil.”

Kalil Filho se manifesta 

Após os tuítes do presidente, e ainda internado, Kalil Filho concedeu uma entrevista à rádio Jovem Pan e admitiu que recebeu o medicamento, junto a outros, mas ressaltou a preocupação de, como profissional da saúde e professor universitário, respeitar a ética médica.

“Tudo o que eu não quero, pela ética médica, é influenciar outros tratamentos. Se eu estou falando para milhares de pessoas e falo que usei cloroquina, todo mundo vai querer inadvertidamente usar cloroquina. Então, essa é uma responsabilidade muito grande.”

No entanto, ele disse que na condição de paciente, recebeu a proposta de tratamento da equipe médica que incluía a hidroxicloroquina. “Aí você vai me perguntar, você melhorou só por causa da hidroxicloroquina? Provavelmente não, porque [foi] uma gama de remédios. Deve ter ajudado? Espero que sim, provavelmente sim.”