A Federação da Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul (Farsul) e o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) iniciaram tratativas para renegociação de investimentos dos produtores rurais e alternativas ao formato atual de tomada de crédito no campo. Também participaram a Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB) e a Federação das Cooperativas Agropecuárias do Estado do Rio Grande do Sul (Fecoagro/RS). A primeira conversa aconteceu nesta quinta-feira, por meio de videoconferência. O objetivo principal é amenizar os impactos causados pela seca na safra 2019/2020, mas a ampliação de opções para captação de recursos para a atividade rural é vista, pela Federação, como forma de garantir a viabilidade do negócio no futuro. Sobre a renegociação de investimentos, a Farsul fez uma proposta sobre a possibilidade de transferir as parcelas vencidas e vincendas em 2020 para após a última prestação, incluindo o Programa de Sustentação do Investimento (PSI).
A retirada da limitação de 8% para a renegociação das carteiras também foi discutida. O economista-Chefe do Sistema Farsul, Antônio da Luz, informa que as proposições foram bem recebidas pelo banco, porém sua execução depende de uma resolução do Banco Central. “Precisávamos desse posicionamento para buscarmos a resolução. Eles foram claros em afirmar que são parceiros, apoiam a proposta. Basta ter a resolução que eles farão uma circular para os bancos com a orientação de se fazer exatamente isso que propomos”, relata.
O encontro também serviu para discutir a construção de uma operação estruturada de crédito, onde cerealistas, cooperativas e revendas de insumos entreguem CPRs únicas para ter menos custo cartorial. Os vencimentos seriam em sete parcelas anuais. Essa CPR seria única e não poderia comprometer mais do que 10% do faturamento anual esperado pelo produtor, no máximo 15%, para não gerar risco ao sistema. “Ele emite essa CPR e dá para uma cooperativa, cerealista ou revenda de insumo que vai pegar de múltiplos clientes. Somados eles formam uma carteira e, individualmente, nenhum produtor pode ser mais que 3% do total. Assim se reduz o risco da carteira entrar em inadimplência”, explica Luz.
A operação consiste no originador (cooperativa, cerealista ou revenda de insumo) criar um Certificado de Crédito do Agronegócio (CDCA) de 120% do valor da operação. Os 20% excedentes ao invés de ir para o BNDES ficam com o originador para cobertura em caso de inadimplência. Não ocorrendo, ele pode transformar em dinheiro dentro do sistema financeiro. Luz comenta que a proposta teve boa recepção. “Eles viram com bons olhos a operação, porém é inédita. Inicialmente não há impedimentos para sua realização, mas eles ficaram de estudar internamente a proposta para que, tecnicamente, confirme sua viabilidade ou se existe alguma norma interna que impeça, mas em princípio não há”, relata.
Uma nova reunião foi agendada para a próxima terça-feira, dia 24, também por videoconferência. Antônio da Luz destaca a participação da ministra da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Tereza Cristina, nas tratativas. “Ela assumiu a frente de tudo e está tratando diretamente. Essa reunião só aconteceu pelo intermédio dela”, revela.