Produção de álcool gel caseiro gera riscos e confronta legislação

Com surto de coronavírus e falta do antisséptico em farmácias do país, receitas caseiras passaram a circular

Foto: Ricardo Giusti / CP

A produção caseira do álcool em gel é arriscada e contraria a legislação brasileira, alertou o Conselho Federal de Química (CFQ). Com o surto de coronavírus e a falta do antisséptico em diversas farmácias ou supermercados do país, passaram a circular pela internet receitas caseiras para produção de álcool em gel a partir do álcool líquido concentrado.

De acordo com a entidade, o uso do álcool líquido em elevadas concentrações aumenta o risco de acidentes que podem provocar incêndios, queimaduras de grau elevado e irritação das mucosas e da pele.

Além disso, a venda de álcool líquido em concentrações superiores a 54°GL (Gay-Lussac) é proibida pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) desde 2013, que considerou os riscos oferecidos à saúde pública decorrentes de acidentes por queimadura e ingestão. Para soluções com graduação acima de 54°GL, a norma permite a forma em gel.

Processo rigoroso

Em nota, o CFQ esclarece que os produtos industrializados (álcool em gel vendido em farmácias e supermercados) se submetem a um rigoroso processo de produção. “Há padrões a serem seguidos, todas as etapas são monitoradas e há um controle de qualidade para padronização e regularidade dos produtos disponibilizados ao consumidor final”, sustenta a entidade. Já o álcool em gel fabricado a partir de receitas e métodos caseiros não passa por controle de qualidade e, por isso, não há garantia de que seja eficiente.

Eficácia comprovada

De acordo com o CFQ, o álcool em gel, por ser considerado antisséptico, é eficaz no combate e na prevenção ao novo coronavírus e a indicação do produto é pautada em medidas de prevenção ao contágio de doenças do sistema respiratório. Estudos sugerem melhor eficácia do produto em soluções 70%, recomendadas pela Anvisa para os serviços de saúde brasileiros e indicadas pela Organização Mundial de Saúde (OMS) na lista de medicamentos de cunho essencial.

Os produtos químicos usados para desinfecção são chamados germicidas (antissépticos ou desinfetantes). Os desinfetantes devem ser usados em superfícies e objetos inanimados e os antissépticos, aplicados em tecidos vivos como mucosas e pele. Por isso, a composição deve ser pensada de modo a não causar irritação.

Além do álcool em gel, as autoridades de saúde sugerem, para higienização das mãos, a lavagem com água e sabão. De modo geral, sabões e detergentes, graças às propriedades químicas, removem a maior parte da flora microbiana na superfície da pele.

O CFQ ressalta que não é recomendado o uso do vinagre contra o novo coronavírus.

Equipamentos eletrônicos: como limpar

O conselho salienta ainda que o mais recomendado para equipamentos eletrônicos é o uso do álcool isopropílico, uma vez que é menos passível de se misturar com a água, dificultando a ocorrência de oxidação.

Deve-se ter cuidado com a quantidade de produto aplicada, ou seja, não se deve “molhar” o equipamento. Basta fazer a aplicação com um pano/lenço/papel embebido no álcool.