Mandetta: coronavírus no Brasil ainda não é situação de epidemia

Ministro confirmou que País já teve casos de transmissão sustentada do Covid-19

Foto: Fabio Rodrigues Pozzebon / Agência Brasil

O ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, disse nesta quinta-feira que o Brasil já confirmou casos de transmissão sustentada do coronavírus, ou seja, de pessoas que contraíram o Covid-19 sem ter ido a um país onde a doença está em situação de contágio grave. Ele afirmou, porém, que a situação no país ainda não pode ser considerada epidemia, que é quando ocorre o contágio indiscriminado na sociedade sem que se consiga determinar a origem do vírus.

“Nós ainda estamos na véspera”, disse o ministro. “Essa doença vem como se fosse um vento, começa como uma brisa, vai ganhado força, ganhando força, até que chega num determinado momento que faz um movimento espiral, que é quando uma pessoa vai transmitindo para outra, transmitindo para outra, e essa espiral forma como se fosse um ciclone. Aí você faz um gráfico em que há um aumento muito rápido no número de casos”, comparou.

Segundo o ministro, o Covid-19 não registra grande letalidade individual e é “uma virose como outra qualquer”. Ele alertou ainda que o Brasil passa atualmente por epidemias muito mais graves.

“Temos uma doença infecciosa no Brasil hoje chamada dengue. Tivemos milhares de casos e óbitos. Temos sarampo, que tem vacina”, disse Mandetta, reforçando o apelo para que as pessoas se imunizem. “Estamos vendo surto de sarampo com óbitos. A tuberculose é a doença infecciosa que mais mata no mundo e o Rio de Janeiro, infelizmente, há séculos, é uma das cidades com maior índice de tuberculose no mundo.”

Para Mandetta, a maior preocupação no momento é a sobrecarga no sistema de saúde. Ele lembrou, porém, que 80% dos infectados pelo Covid-19 não desenvolvem sintomas graves, sendo que 30% são assintomáticos, como crianças e adolescentes. “Vinte por cento vão ter algum grau de necessidade de cuidado”, disse o ministro, ressaltando que a morte vem ocorrendo entre pessoas com doenças associadas pré-existentes. “São classicamente os que falecem de gripe todos os anos – no ano passado tivemos quase 550 mil internações por influenza e 9% de letalidade por gripe.”

Críticas

Mandetta criticou medidas como a do governo do Distrito Federal (GDF), que suspendeu as aulas por cinco dias, o que ele considerou precipitado.

O ministro lembrou que o Distrito Federal teve um caso confirmado e comentou: “Um caso. Aí você suspende as aulas. Os alunos ficam em casa. Pai e mãe estão trabalhando, com quem ficam as crianças? Com os avós. Quem é o maior grupo de risco? Os idosos. Você sabe que as crianças são assintomáticas ou têm sintomas leves. Vamos proteger as crianças para não pegarem a gripe, vamos mandar para a casa dos avós. Depois de uma semana, ou 10 dias, vão começar os idosos a aparecer nas unidades de saúde em bloco, com dificuldades respiratórias.”

Mandetta afirmou também que a Organização Mundial da Saúde (OMS) demorou para decretar a pandemia. “Nós falamos, há três semanas: ‘Declare pandemia, para facilitar a identificação.’ E insistiram com aquela fórmula: sai um avião de Portugal, que não tem problema. Mas quem está dentro do avião? Um cara que foi para a Itália, para a Espanha, para a Alemanha, para o Irã, para Doha, para o Qatar. O mundo não tem fronteiras!”, lembrou.

Custeio

Sobre os recursos de R$ 5 bilhões que o Ministério da Saúde solicitou ao Congresso Nacional para custeio do combate ao coronavírus, o ministro explicou que, pelas novas regras do Orçamento da União, a liberação precisa ser feita pelo relator do Orçamento do ano anterior.

“É o deputado Domingos Neto [PSD-CE] que tem que autorizar. Já pedi por escrito e verbalmente. Se não o fizer, nós vamos fazer remanejamentos. Puxa a despesa que seria de dezembro, de novembro, de outubro, e vamos atender esse momento”, disse Mandetta, garantindo que o sistema de saúde vai ter os recursos de que precisa.

Ele informou que o ministério já calculou que o valor necessário para que toda a rede se prepare para atender ao surto de Covid-19, com extensão de horário de atendimento, é de R$ 1 bilhão. A distribuição vai ser feita de acordo com a população de cada cidade. O ministro destacou também que a rede particular precisa ter condições de atender aos pacientes.

Mandetta negou que o coronavírus seja problema do Sistema Único de Saúde (SUS), só do hospital público. “Não. Em Brasília, a paciente foi atendida em um hospital privado, foi feito o diagnóstico e falaram que não sabiam tratar da doença. Um hospital que não sabe tratar uma pneumonia por gripe tem que tirar o nome de hospital da porta, porque pode ser chamado de qualquer coisa, menos de hospital”.

Bloqueio sanitário

O Ministério da Saúde também não discute ainda possibilidade de “bloqueio sanitário”, como fechar fronteiras ou proibir voos em função do risco de contágio. “Não há nenhuma orientação neste sentido. Isso é para sempre? Não sei, depende da evolução”, disse o secretário-executivo da pasta, João Gabbardo.

A declaração ocorre um dia depois de o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, determinar a suspensão de voos da Europa para o país. Ele acusou ainda nações europeias de não tomarem medidas sanitárias necessárias contra a doença. No continente, a Itália é o país cuja situação do coronavírus é a mais grave.

Para Gabbardo, apesar de contar com um “sistema de saúde muito bem estruturado”, a Itália não teve tempo de estudar os casos do novo coronavírus da China a tempo de controlar a chegada no território. “Estamos tendo tempo para planejar um pouco mais”, disse o secretário.