Uma nota oficial divulgada pela Prefeitura de Porto Alegre, nessa quarta-feira, não recomendando o aumento salarial dos rodoviários em 2020 foi contestada pelo Sindicato dos Trabalhadores de Transporte Rodoviário de Porto Alegre (Stetpoa), nesta quinta-feira, em entrevista à Rádio Guaíba, como “mentirosa” e como forma de “colocar a população contra os trabalhadores”.
Segundo o seu vice-presidente, Sandro Abbade, ao contrário do que aponta o executivo, os funcionários da Capital não têm o segundo maior salário em comparação a todas as categorias do Brasil. O que ocorre, segundo Abbade, é que os rodoviários de Porto Alegre foram os primeiros a fazerem ajuste salarial. “Lá na frente, os salários de outras capitais como São Paulo, Curitiba e até a cidade de Caxias do Sul serão maiores do que o de Porto Alegre”, explicou.
Os constantes ataques e o não avanço do reajuste do dissídio salarial 2020 podem levar o Sindicato a novos protestos, segundo Abbade. Entretanto, a medida é encarada como uma última alternativa na busca pelas reivindicações. “Há uma grande possibilidade da categoria realizar protestos, mas isso vai acontecer com muita coerência. Sindicato de maneira alguma vai colocar o trabalhador numa fria. Nós vamos pra linha de frente”, destacou o vice-presidente do Stetpoa.
O posicionamento da prefeitura, enviado à Associação dos Transportadores e Passageiros (ATP), vai de encontro com uma série de reivindicações dos rodoviários da Capital, sendo a mais importante delas o reajuste salarial em 7% – equivalente ao Índice Nacional de Preço ao Consumidor (INPC). O pacote de medidas, que também prevê vale-alimentação de R$30,50 e o direito aos trabalhadores de uma folga semestral, foi entregue no dia 20 de janeiro deste ano. Na ocasião, as propostas reuniam mais de 20 itens. “Estamos firmes no 7% e todas as cláusulas que colocamos. Essa proposta foi aceita em assembleia”, enfatizou Sandro Abbade. Os prazos para as negociações aconteceram é até meado de abril.
Durante a entrevista, o vice-presidente também lembrou que o Sindicato dos Trabalhadores de Transporte Rodoviário de Porto Alegre (Stetpoa) encara um cenário de resistência com os próprios rodoviários. “A categoria tem que ficar tranquilizada, não vamos desgastar mais os trabalhadores”, destacou.
Transporte Cidadão
Como saída para conter o aumento da tarifa do transporte público, a Prefeitura propôs um pacote “Transporte Cidadão”. O governo municipal prometida com a proposta reduzir a tarifa para R$ 2 já em 2021. Dentre as medidas do pacote, estava a retirada gradativa dos cobradores das linhas de ônibus, realocando-os em outros cargos. A medida foi rejeitada, em 3 de fevereiro, por 23 votos a nove na Câmara Municipal. Os outros projetos não têm data para serem analisados.
No dia da votação da proposta, os rodoviários protestaram em pelo menos duas avenidas de Porto Alegre. Além de passeatas, a categoria promoveu uma operação tartaruga, com os ônibus andando de forma mais lenta pelas vias. A iniciativa, porém, não deu certo por conta da intervenção de integrantes do batalhão de choque da Brigada Militar. Os manifestantes foram obrigados então a desocupar a faixa da direita, permitindo que o trânsito fluísse até o Centro da Capital.
Confira a nota da Prefeitura na íntegra:
A Prefeitura de Porto Alegre recomendou à Associação dos Transportadores de Passageiros (ATP) que não conceda aumento salarial aos rodoviários em 2020. Atualmente, o custo da mão de obra (motoristas e cobradores) do transporte coletivo da Capital já é o segundo maior do país. Somente esse item representa quase 50% do valor da tarifa. Os motoristas ganham 20% a mais que a média nacional e os cobradores têm remuneração até 29% superior a outras cidades brasileiras.
Desde 2017, a Prefeitura de Porto Alegre propôs todas as alternativas já testadas em vários municípios e países para diminuir o valor da passagem de ônibus. O Legislativo não se mostrou sensível ou propositivo à pauta. Os próprios rodoviários trabalharam contra as alternativas propostas. Todas as ações que dependiam da organização e gestão da Prefeitura foram realizadas.
A Prefeitura acrescentou novas propostas às que tramitam desde 2017 sem enfrentamento pelos vereadores. Os rodoviários são contra, e não vemos em parte do Legislativo o desejo de aprovação ou de sugestão de outras medidas.
O valor da passagem, que já é elevado, caminha para patamares ainda mais inaceitáveis. Sem novas fontes de financiamento, sem reduzir os gastos, não é suportável mais nenhum acréscimo nos custos, como aumento salarial, pois os mesmos, por força de lei, irão compor o reajuste da tarifa.