Infectologistas veem baixo risco de novo coronavírus chegar ao Brasil

Epidemia matou 17 pessoas na China, deixando outras 500 infectadas até o momento

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Foto: Pixabay

Cientistas vêm se mostrando cada vez mais preocupados com um novo vírus, que se espalha pela Ásia e já matou 17 pessoas na China, deixando mais de 500 infectados, até o momento. Nesta quarta-feira, o Ministério da Saúde do Brasil rechaçou a afirmação da Secretária da área de Minas de que havia um caso suspeito no Brasil porque “não se enquadra na definição da Organização Mundial da Saúde (OMS)”. De acordo com o médico infectologista do Hospital Moinhos de Vento Diego Falci, há a probabilidade de o agente patológico denominado 2019-nCoV chegar ao País, mas ele considera que ela seja baixa.

“Evidente que ela existe. Mas a gente ainda considera baixa do ponto de vista de transmissão sustentada”, comenta, explicando que os pacientes infectados no Japão, na Coreia do Sul, em Taiwan, na Tailândia e nos Estados Unidos foram contaminados ainda na China ou após contato com pessoas que estiveram lá. “Agora, os casos importados podem ocorrer em qualquer pessoa que tenha visitado aquela região”, considera.

Falci frisa que ainda não há registros de transmissão do vírus fora do epicentro, a megalópole com 11 milhões de habitantes de Wuhan. Os casos mais recentes provavelmente incluem algumas das infecções homem-a-homem da “primeira geração”. Se as pessoas forem infectadas recentemente em outros locais onde o vírus já apareceu, incluindo Japão, Tailândia, Pequim e Shenzhen, provavelmente farão parte de uma segunda.

Para o professor titular de infectologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), Luciano Goldani, o Ministério da Saúde do Brasil deve ficar atento e adotar as mesmas medidas que os Estados Unidos, por exemplo, com a identificação de quem chega das regiões onde a contaminação é registrada. Esses mecanismos – que envolvem questionários e a medição da temperatura corporal – são totalmente eficazes, segundo Goldani.

Ao mesmo tempo em que prega cautela no alarmismo, o médico comenta que a dimensão da propagação do vírus pode ser outra. “Nós sabemos que a China tem um regime muito fechado, as informações as vezes não chegam na totalidade, chegam fragmentadas, do ponto de vista da comunidade internacional. Então, a gente não tem certeza se esse número de casos que está sendo reportado, notificado, se ele realmente representa a realidade”, alerta.

Nesse mesmo sentido, um grupo liderado por pesquisadores do Imperial College London estima que, com base em simulações de viagens dentro e fora de Wuhan, cerca de 1,7 mil tenham sido infectadas pelo coronavírus. Para conter a disseminação, as autoridades iniciaram uma espécie de “quarentena”: moradores da cidade foram instruídos a não sair, e as atividades no aeroporto, estações de trem, redes de ônibus, metrô, balsa e transporte de longa distância serão suspensas a partir das 10h da amanhã, no horário local.

Semelhanças com SARS

Há comparações do novo agente patológico com a síndrome respiratória aguda grave (SARS), surgida igualmente na China, mas em 2019. O vírus transmissor também é da família coronavírus. Embora o quadro clínico seja muito semelhante, a transmissibilidade ainda é desconhecida. “O que parece é que esse vírus atual tem uma taxa de mortalidade menor. O SARS tinha uma mortalidade mais alta, em torno de 10%”, explica Falci.

Goldani salienta que, apesar das semelhanças entre os vírus, há testes apropriados e eficazes para diferenciar o coronavírus. Segundo Goldani, o mais recentes deles usa a própria secreção respiratória por meio da saliva ou da coriza.

Após o paciente ser infectado, os sintomas devem se manifestar de 10 a 14 dias. Goldani ainda ressalta que não há vacinas para o coronavírus disponíveis à população. Em casos de suspeitas e de infecção, cabe à equipe médica dar o suporte e o tratamento aos sintomas. Para prevenir o contágio, os brasileiros devem evitar espaços fechados e fazer o uso de álcool gel. Já quem ocupa as áreas infectadas, como a cidade de Whuan, é obrigatório o uso de máscaras.