O rei do punk brega está, hoje, mais para Wan Wan, como é carinhosamente chamado pelos amigos. Foi ele disse, entre risos, em uma entrevista descontraída para o Set Guaíba. Por falar em carinho, Wander Wildner contou que descobriu, há pouco, que o alicerce da vida é o amor.
“O amor é o fundamento da vida. A base da vida é o amor. Estamos aqui para amar. Por mais que nos disseram o contrário e por mais que nos fizeram caminhar em outras direções. Descobri, talvez tardiamente, que o amor é o fundamento maior. É o que move. É a vibração mais alta”, disse.
O amor e o movimento. Segundo ele, os Wildners eram nômades de determinada região da Áustria e assim também se autointitula. Sempre mudando de lugares, de ares, viajando, levando a música para onde for possível e coletando histórias. Em breve análise de seu trabalho, ficam claros os traços do andante. Em Coração e Pólvora (de Gustavo Kaly), Wander canta “e a estrada e a resposta com as sua condolências”. Também em Boas Notícias, nos traz a ideia da partida ao entoar que promete trazer boas notícias quando voltar. Em Folksom nos diz: “estou em movimento e estou vivendo”. O que instiga o músico? O amor, o movimento e a consciência.
“A vida é fazer coisas. A vida é fazer e ter consciência do que se está fazendo. Durante muito tempo fiz coisas inconscientemente. Eu não sabia porque estava fazendo. Eu fazia porque as pessoas que estavam a minha volta faziam e eu fazia também. Muito bacana. Mas agora eu descobri que tem coisas além disso, que eu posso fazer qualquer coisa. Tomar consciência, pra mim, foi a coisa mais importante. Eu não sabia porque eu comia o que eu comia. Porque meus pais comiam aquilo… porque as pessoas comem aquilo… Aquilo não fazia bem pro meu corpo. Só citando uma coisa básica que é a alimentação. Vai além. Como a gente pensa? Por que eu tô pensando o que tô pensando? Então, de cada segundo, de cada ação, eu tenho consciência. Isso me leva ao infinito”, poetizou.
O amor, o movimento, a consciência e a física quântica. Há três anos, este ramo da ciência tem sido o maior objeto de estudo do músico. “A nossa energia vibra. E a gente vibra alto ou baixo. A gente é que escolhe. Nós somos energia, uma força energética, muito mais do que esse corpinho bonito. Essa energia pode vibrar em qualquer frequência. Alta ou baixa. E eu optei por vibrar numa frequência alta”, revelou.
Nessa vibração, ele segue sem script definido: “eu vou descobrindo as minha direções, indo numa direção, e depois eu volto e depois eu dobro. O tempo não é linear. Estudando física quântica eu descobri que o tempo não é linear. Não existe passado e futuro, tudo tá acontecendo agora. Descobri isso com 58 anos.”
O amor, o movimento, a consciência, a física quântica e o sentido. Não tem como não fazer sentido para Wander Wildner. Tanto é que o disco mais recente, lançado nessa semana, é uma coletânea das novas músicas que ele pretende tocar nos shows. Canções Iluminadas de Amor condizentes com seu momento. Canções que talvez só atraiam aos fãs que vêm acompanhando sua trajetória e que talvez sejam menos atraentes para os das antigas que não abrem mão de sucessos como Bebendo Vinho ou Não Consigo Ser Alegre o Tempo Inteiro. Mas para o Wander está tudo bem.
“Não é problema. Eu toco ‘Bebendo Vinho’ mesmo não bebendo mais álcool. Entende? Fiz até uma versão botando ela no passado: ‘eu me entorpecia bebendo vinho’ (risos). Durante um tempo foi um problema: como eu resolvo isso, cantar uma música que eu não vivo mais aquilo ali? Eu sempre cantei o que eu tava vivendo, entende? Mas durante um tempo eu tava cantando essas músicas porque ‘ai eu tenho que tocar as músicas mais famosas’. Agora depois de lançar um disco por ano com músicas inéditas eu tenho que pensar numa outra saída e acreditar no disco. Talvez tenham pessoas que não vão gostar ou que vão sentir falta. Bom, paciência. Continuo cometendo meu erros, mas são os meus erros, não são os erros dos outros”, contou Wander Wildner.
Em outro momento da entrevista ele reiterou: “pra mim não faz sentido cantar uma coisa que não tô vivendo. No show, tem as pessoas que estão pagando ingresso pra ir lá. Aí a minha generosidade tem que aparecer. Então eu canto algumas músicas. Mas não posso cantar todas. Tenho 12 discos de músicas inéditas, são mais de 120 músicas fora as que eu não gravei e que eu canto. É muita música. Vai ficar de fora. Mas eu não vou ser aquele cara que vai tocar todas as músicas conhecidas em todos os shows porque eu não tenho uma carreira como esses artistas do show business”.
– Ok, mas tu sabes da tua importância no cenário musical gaúcho e da referência que és, certo?
– É uma história passada. Quando vou fazer a minha agenda de shows ela não pesa tanto. Não pesa porque as coisas mudam muito rápido… por aqui. (risos)
– O tempo é relativo por aqui, né?
– Exatamente. (mais risos)
O amor, a estrada, a consciência, a física quântica, o sentido e o fazer. O músico revelou que, para ele, tentativa não existe. Wander disse que não tenta, faz. E que até pode ter tentado, mas que fazer tem sido mais interessante. Principalmente para o processo criativo: “É muito interessante. Porque vai vindo outras coisas e eu vou tendo novas ideias. Eu sou um ser criativo. Eu vivo de criar coisas que não existem, com referência de coisas que existem, mas são coisas novas. Eu sempre fiz isso. Isso me leva a ‘não sei o que eu vou fazer’, mas eu já não me preocupo. As ideias estão surgindo sempre, sempre, sempre”.
Ideias como o projeto para o próximo álbum, que deve ser lançado ainda em 2020. O esboço está formado mentalmente: canções instrumentais, textos de outros autores, melodias, uma espécie de ópera rock. A composição começa nos próximos dias e se depender do amor, do movimento, da consciência, da física, do sentido e do fazer que permeiam o discurso de Wander Wildner, teremos mais um grande trabalho do eterno rei do punk brega. Ou Wan Wan para os íntimos.