Após cobrança de explicações, Bolsonaro garante que quer manter relações comerciais com o Irã

Ministério das Relações Exteriores do Irã convocou os representantes diplomáticos brasileiros a comparecerem à chancelaria iraniana para explicar o teor de nota

Foto: Alan Santos / PR

O presidente Jair Bolsonaro disse hoje que o Brasil pretende manter as relações comerciais com o Irã e afirmou que repudia o terrorismo. “Nós repudiamos o terrorismo em qualquer lugar do mundo e ponto final. Temos comércio com o Irã e vamos continuar esse comércio”, disse, ao deixar o Palácio da Alvorada na manhã desta terça-feira.

Na semana passada, o governo brasileiro manifestou apoio “à luta contra o flagelo do terrorismo”. A nota do Ministério das Relações Exteriores saiu um dia após a ação ordenada pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que provocou a morte do general Qassem Soleimani, considerado por muitos analistas como o segundo homem mais poderoso do governo iraniano. O ataque ocorreu nas proximidades do Aeroporto de Bagdá, capital do Iraque. O Itamaraty não comentou a morte do general, mas condenou o ataque à embaixada dos Estados Unidos em Bagdá, ocorrido dias antes.

Nesta semana, o Ministério das Relações Exteriores do Irã convocou os representantes diplomáticos brasileiros a comparecerem à chancelaria iraniana para explicar o teor da nota divulgada no último dia 3. A convocação foi atendida pela encarregada de Negócios do Brasil em Teerã, Maria Cristina Lopes.

Bolsonaro também disse hoje que vai conversar com o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, sobre a possibilidade de pedir uma reunião com os diplomatas iranianos no Brasil. No final da manhã, Bolsonaro esteve reunido com o ministro da Defesa, Fernando Azevedo, e com os comandantes das Forças Armadas, no Ministério da Defesa. Em conversa rápida com jornalistas depois da reunião, Azevedo não especificou o que havia sido tratado sobre as relações com o Irã.

EUA defende ações no Irã

Já o secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo, defendeu a legalidade do ataque americano que matou o general Soleimani, bem como de qualquer ação militar futura contra o Irã. De acordo com ele, Washington só toma decisões dessa natureza após uma revisão completa e minuciosa da base jurídica. Quando perguntado se os juristas haviam sido consultados antes do ataque de sexta, em Bagdá, ele não conseguiu responder com muita precisão. Pompeo também acusou o ministro das Relações Exteriores do Irã, Mohamad Javad Zarif, de mentir sobre a suposta natureza diplomática da presença de Soleimani, no Iraque, para um acordo a fim de reduzir as tensões no Oriente Médio. O militar era da chefe da unidade encarregada das operações externas da Guarda Revolucionária, o exército ideológico iraniano.

Quando perguntado sobre a ameaça do presidente dos EUA, Donald Trump, de atacar locais culturais iranianos em caso de uma resposta militar de Teerã à morte de Soleimani, Pompeo mais uma vez garantiu, como havia feito várias vezes no domingo, que Washington só vai agir de acordo com o direito internacional.

O secretário de Defesa dos Estados Unidos, Mark Esper, refutou a hipótese de ataques militares a locais culturais no Irã caso o conflito com Teerã aumente, apesar da ameaça do presidente Donald Trump de destruir alguns dos ícones mais apreciados – ao todo, o republicano afirmou ter 52 alvos “de muito alto nível e importantes para o país”. O chefe do Pentágono reconheceu que atingir locais culturais sem valor militar é um crime de guerra, e que o objetivo americano é seguir as leis do “conflito armado”.