O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, arquivou dois pedidos de investigações contra o presidente Jair Bolsonaro por suposta obstrução de Justiça no caso Marielle Franco. Os processos foram movidos pelo Partido dos Trabalhadores (PT) e pela Associação Brasileira de Imprensa (ABI), questionando a declaração de Bolsonaro sobre obter áudios da portaria do condomínio Vivendas da Barra a fim de evitar a posterior adulteração do material. As informações foram divulgadas pelo jornal O Estado de S.Paulo.
A declaração ocorreu no início de novembro, após o nome do presidente ser implicado no depoimento do porteiro do condomínio. Ele afirmou à Polícia Civil que confirmou a entrada de Elcio Queiroz, suspeito de matar Marielle Franco, com o “Seu Jair”, da casa 58 – mesmo número da residência do presidente no conjunto. As informações foram reveladas pelo Jornal Nacional, da TV Globo. No dia 20 de novembro, o porteiro recuou e mudou o depoimento.
À época, Bolsonaro declarou: “Nós pegamos (o áudio) antes que fosse adulterado, pegamos lá toda a memória da secretária eletrônica, que é guardada há mais de ano. A voz não é minha”, afirmou.
A oposição acusou o presidente de obstruir o caso por ter se apropriado de provas de um caso ainda em investigação. A ABI se manifestou de forma semelhante, pedindo uma investigação sobre a ação de Bolsonaro. O órgão classificou o caso como “temerário” e solicitou busca e apreensão do computador ou da base de dados que armazena as gravações para realização de perícia.
O ministro Alexandre de Moraes solicitou parecer do Procurador-Geral da República, Augusto Aras, que se posicionou contra a abertura de inquérito contra Bolsonaro e o vereador Carlos Bolsonaro, que divulgou vídeo com supostas gravações do prédio. “O fato de um condômino ter o eventual acesso à cópia dos áudios da portaria do local onde reside consiste em mero exercício de direito, na medida em que possui o domínio ou posse – embora não exclusivamente – sobre os bens de uso comum (art. 1.335 do Código Civil)”, escreveu Augusto Aras.
Ainda conforme o Estadão, o PGR pontuou que o material está “há muito, sob a guarda das autoridades competentes – Ministério Público e autoridade policial -, tendo havido a análise técnica do seu conteúdo antes mesmo dos fatos noticiados”.
A investigação teve início após reportagem da TV Globo mostrar que um homem chamado Elcio (supostamente Elcio Queiroz, um dos acusados pela execução de Marielle) deu entrada no condomínio Vivendas da Barra em 14 de março de 2018, data do crime, dirigindo um Renault Logan prata. De acordo com o primeiro relato do porteiro, ele informou que pretendia visitar a casa 58, de Bolsonaro, mas se dirigiu à residência de Ronnie Lessa, que vive no mesmo conjunto.
O porteiro relatou ter confirmado a entrada de Elcio Queiroz com o “seu Jair”. Quando o veículo seguiu para a casa de Lessa, ele disse ter ligado novamente para a casa de Bolsonaro para confirmar o destino de Queiroz. Bolsonaro, à época deputado federal, cumpria expediente em Brasília conforme registros da Câmara. A versão inicial do porteiro foi dita em duas ocasiões no caso e, como prova, foi levada aos investigadores a planilha de controle de entrada no Vivendas da Barra. O registro apontou a ida de Elcio Queiroz à casa 58. A repercussão levou o presidente a solicitar, via Sergio Moro, atual ministro da Justiça e Segurança Pública, a intervenção da PGR para apurar o depoimento.
A solicitação de Moro foi atendida por Aras, que encaminhou pedido à Polícia Federal para abrir novo inquérito para ouvir o porteiro. Na ocasião, ele recuou na declaração inicial e afirmou que se equivocou ao marcar a casa 58 e, por isso, se sentiu “pressionado” pelo próprio erro para dar a versão envolvendo o “Seu Jair”.