No Esfera Pública, Haddad descarta concorrer à Prefeitura de SP e critica Ciro

Ex-ministro não negou que possa fazer parte de alguma composição para 2022, mas rejeitou qualquer possibilidade de aliança com o pedetista

Foto: Pamela Morales / Rádio Guaíba

O ex-ministro da Educação e candidato a presidente da República em 2018 Fernando Haddad (PT) descartou concorrer à Prefeitura de São Paulo em 2020. “Não pretendo concorrer. Não se trata de cálculo eleitoral, ou se preservar para outras campanhas, até porque não acredito nisso. Mas não tenho essa pretensão de concorrer em 2020. Preciso realmente me reorganizar e de um fôlego para continuar colaborando como eu venho colaborando com os partidos progressistas do Brasil”, disse Haddad em entrevista ao programa Esfera Pública.

O ex-ministro não negou que possa fazer parte de alguma composição para 2022, mas rejeitou qualquer possibilidade de aliança com Ciro Gomes (PDT), ex-candidato em 2018. “Se ele fosse para o segundo turno, toda centro-esquerda, todos os partidos progressistas estariam apoiando ele. Você acha que eu teria ido pra Europa se ele fosse para o segundo turno e eu não? O que é isso, gente? O Ciro foi ministro comigo, no mesmo governo. Eu iria pra onde? Para o palanque dele. Defender a candidatura dele. Isso todo mundo sabe”, disse.

Para Haddad, Ciro Gomes “vive uma crise de identidade”, sem conseguir se localizar ideologicamente, perdendo consistência no discurso. “É ruim para a democracia. Ele foi candidato por três vezes. Acho que o discurso dele às vezes se perde. A gente não sabe onde ele está. Com quem ele está aliado. É uma crise de identidade”, afirmou Haddad.

Sobre a Educação no Brasil

Na semana passada, o ministro da Educação, Abraham Weintraub, afirmou que o resultado negativo do Brasil na prova do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa) é “integralmente culpa do PT”. Os resultados puseram o Brasil entre as 20 piores posições no ranking internacional, de um total de 79 países e territórios, mostrando que os estudantes brasileiros estão estagnados desde 2009. Haddad lembrou que o Brasil registrou o maior índice de evolução na educação entre os anos 2000 e 2012.

Para Haddad, desde 2012 as regiões mais ricas do país tiveram diminuição do ritmo de melhoria e o Nordeste teve expansão da qualidade. Citou estados como Pernambuco, Ceará e Goiás como exemplos de ampliação da qualidade e estados do sul e sudeste que tiveram queda no desempenho educacional, como o Rio Grande do Sul e São Paulo.

“Temos que tomar cuidado quando falar de Brasil pra não responsabilizar quem está fazendo um bom trabalho e pra responsabilizar quem não está. Temos indicadores individualizados. Vamos ser justos com quem está avançando”, defendeu. Para Haddad, a explicação é a ineficiência da gestão em alguns Estados, citando como exemplo São Paulo que tem o mesmo índice do Ceará, mas com 60% a mais de recursos do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb) para investir.

Sobre o primeiro ano de Bolsonaro na presidência

O ex-ministro Fernando Haddad comentou sobre a taxa de reprovação do presidente Jair Bolsonaro (PSL), em que 36% dos entrevistados pelo Datafolha avaliaram como ruim ou péssimo o atual governante. Haddad declarou que não tinha expectativa diferente em relação ao comportamento de Bolsonaro e citou como “controversos” os sete mandatos como deputado federal que teve.

Ele avaliou como “irresponsável” a negativa do presidente brasileiro em enviar o ministro da Cidadania, Osmar Terra, para a posse do presidente argentino Alberto Fernández. “Estamos falando do principal parceiro comercial do país aqui no subcontinente. É uma demonstração de imaturidade para exercer a presidência da República, mas poderia narrar incontáveis casos semelhantes a este. Ele não tem, de fato, dignificado o cargo de presidente da República”, disse. E completou: “não me surpreende porque o despreparo era patente, mas não deixa de ser lamentável que nós tenhamos chegado ao final do ano nesta situação”.