“Moro não foi imparcial, atuou como acusador”, defende Haddad, sobre julgamento de Lula

Ex-prefeito de São Paulo recebeu a Medalha do Mérito Farroupilha, na Assembleia Legislativa

Foto: Ricardo Giusti/CP

O ex-prefeito de São Paulo e ex-ministro da Educação Fernando Haddad (PT) declarou, nesta segunda-feira, em Porto Alegre, que o julgamento relacionado ao ex-presidente Lula “mais esperado” é aquele no qual o Supremo Tribunal Federal (STF) vai analisar se o ministro Sérgio Moro agiu com imparcialidade enquanto responsável pelos casos da Lava Jato. “Só um julgamento importa. Acreditamos que Moro não foi imparcial. Atuou como acusador. Ele tinha uma posição pessoal sobre o presidente Lula e uma motivação política por trás disso. Tanto que deixou de ser juiz e entrou na política”, apontou.

Haddad esteve na Capital para receber, da Assembleia Legislativa, a Medalha do Mérito Farroupilha, pela manhã, e, à tarde, participou do programa Esfera Pública, da Rádio Guaíba. Além de criticar o ações e postura do atual governo federal, o ex-ministro disse discordar dos julgamento e acreditar na inocência do ex-presidente. “Como pode uma propriedade ser atribuída a alguém? Que tipo de figura jurídica é esta? No Brasil a lei é clara. A propriedade é de quem comprou. O sítio de Atibaia foi comprado com dinheiro legítimo que saiu da conta de um amigo do Lula. Não teve dinheiro do Lula, nem da Odebrecht”, citou.

Mencionado outro caso no qual o ex-presidente foi condenado, sobre o apartamento no Guarujá, Haddad garantiu ter lido “de cabo a rabo” o processo e assegurou não ter encontrado prova de corrupção. “Lula entrou uma vez no apartamento. Ele e sua falecida esposa tinham um apartamento no mesmo prédio. Não assinaram documento. Não tiveram a chave. Jamais dormiram no local. Pela lógica dos julgadores, o frequentador de um bar pode se tornar o dono do estabelecimento?”, questionou.

Fernando Haddad afirmou que não pretende ser candidato e sustentou que os governos do PT atuaram para fortalecer o combate à corrupção no país. “Hoje, estão fazendo o que querem com a Polícia Federal e com o Ministério Público. Acha que, para os adversários do presidente Lula, importa se ele é culpado ou não? O importante é tirar o Lula da competição”, definiu.

Sobre a última eleição presidencial, na qual foi derrotado por Jair Bolsonaro (PSL), Haddad disse considerar que o pleito foi influenciado pelas notícias falsas disseminadas por sistemas clandestinos de telefonia. Ele também comentou o receio de que as instituições brasileiras ainda não tenham criado dispositivos para que este tipo de influência não volte a ocorrer. “O que definiu as eleições foram as fake news. As informações que estão sendo investigadas são muito importantes. Eram centenas de milhares de aparelhos, com números do exterior e financiamento desconhecido, distribuindo notícias falsas contra mim e Manuela (D’Ávila). Não acredito que estamos preparados para evitar que isso se repita”, concluiu.

Medalha

Professor da Universidade de São Paulo (USP) e do Insper, Doutor em Filosofia, Mestre em Economia e Bacharel em Direito, Haddad avaliou que a honraria recebida do Parlamento gaúcho se trata de um reconhecimento ao trabalho realizado pela equipe que integrou, sob o comando do ex-ministro Tarso Genro e depois como responsável pelo Ministério da Educação.

“São pessoas que tiveram a grandeza de perceber que sem educação não teríamos chance (enquanto país), principalmente as camadas mais humildes, sobretudo seus filhos, que não tinham a menor perspectiva de emancipação por meio da educação. Estes puderam contar com a universidade pública, os institutos federais e escola de qualidade independentemente da riqueza das suas famílias ou do grau de escolaridade dos seus pais”, afirmou Haddad.

No período em que Haddad integrou os quadros do Ministério durante três gestões petistas no governo federal o Brasil experimentou o maior salto em investimentos na área. Foram criadas 18 novas universidades federais e 173 campus universitários. Já a população universitária chegou perto de triplicar, saltando de 3 milhões, em 2003, para 8 milhões em 2016.