Para jornal inglês, Lula fala em volta do PT mas põe candidatura em dúvida

Alianças e amizades do presidente Jair Bolsonaro também foram tema de discussão, assim como cenário político da América Latina

Foto: Ricardo Stuckert / Divulgação

Na primeira entrevista a um meio de comunicação estrangeiro desde que deixou a prisão em Curitiba, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou estar em uma “batalha pela democracia” e garantiu que “o Partido dos Trabalhadores está se preparando para voltar e governar este país”.

Ao jornal inglês The Guardian, o petista comentou sobre a possibilidade de concorrer nas próximas eleições, citando a idade como um fator decisivo. “Em 2022, terei 77 anos. A Igreja Católica, com dois mil anos de experiência, aposenta seus bispos aos 75 anos”, disse, sem deixar claro se isso pode ser impeditivo.

No ano passado, o Supremo Tribunal Eleitoral impediu Lula de concorrer com base na Lei da Ficha Limpa, segundo a qual fica inelegível todo político condenado em decisão transitada em julgado ou por órgão colegiado “desde a condenação até o transcurso do prazo de oito anos após o cumprimento da pena” por uma lista de crimes.

Também em 2018, o ex-ministro da Fazenda do Brasil Henrique Meirelles tinha 73 quando concorreu pelo MDB. Nos Estados Unidos, o senador democrata de 78 anos Bernie Sanders é um dos pré-candidatos do partido.

Durante a entrevista, Lula criticou fortemente o presidente Jair Bolsonaro, falando que a “submissão a Trump e aos Estados Unidos é vergonhosa”. “A imagem do Brasil é negativa no momento. Temos um presidente que não governa, que fica discutindo notícias falsas 24 horas por dia. O Brasil precisa ter um papel no cenário internacional”, comentou. “Vamos torcer para que Bolsonaro não destrua o Brasil. Vamos torcer para que ele faça algo de bom pelo país … mas duvido disso”, completou.

As alianças e amizades de Bolsonaro também foram tema de discussão. “Uma vez, falar sobre paramilitares era uma coisa rara… hoje, vemos o presidente cercado por paramilitares”, disse o petista, que também lamentou “que o Brasil esteja se tornando um país onde a disseminação do ódio está se tornando parte do cotidiano das pessoas”. “Sou torcedor do Corinthians. Mas não posso lutar com um fã do Palmeiras – tenho que aprender a viver com ele”, comentou.

Lula ainda disse que deixou a prisão “com um coração maior” e, por causa dos ativistas que montaram acampamento em frente ao local, “não se tornou uma pessoas amarga por dentro”.

“Espero que um dia o Moro seja julgado pelas mentiras que ele contou”, disse, referindo-se à condenação, a qual, em outras oportunidades, já classificou como farsa e perseguição política.

América Latina

O ex-presidente disse ainda estar “empolgado” com a presidência de Alberto Fernández, na Argentina, e Andrés Manuel Obrador López, no México. Contudo, mostrou-se preocupado com a Bolívia. “Meu amigo Evo cometeu um erro ao buscar um mandato como presidente, mas o que eles fizeram foi um crime. Foi um golpe de Estado, isso é terrível para a América Latina”, comentou, sobre a saída do ex-líder cocaleiro da presidência boliviana após 13 anos de gestão.