Porteiro do condomínio de Bolsonaro depõe à PF em inquérito do caso Marielle

Inquérito, aberto por ordem do ministro Sérgio Moro, apura "tentativa de envolvimento indevido" do nome do presidente 

Foto: Fernando Frazão / Agência Brasil

O porteiro do condomínio Vivendas da Barra, onde o presidente Jair Bolsonaro mantém uma casa, no Rio de Janeiro, prestou depoimento à Polícia Federal nessa terça-feira, publicou hoje o jornal O Estado de S.Paulo. O inquérito, aberto por ordem do ministro Sérgio Moro (Justiça e Segurança Pública), apura a suposta “tentativa de envolvimento indevido” do nome de Bolsonaro nas investigações sobre o assassinato da vereadora Marielle Franco (PSol), em março do ano passado.

A investigação teve início após uma reportagem da TV Globo mostrar que um homem chamado Elcio (supostamente Elcio Queiroz, um dos acusados pela execução de Marielle) deu entrada no condomínio Vivendas da Barra em 14 de março dirigindo um Renault Logan prata e informando ao porteiro que pretendia visitar a casa 58, de Bolsonaro. O porteiro afirmou ter confirmado a entrada com o “seu Jair”.

O presidente, à época deputado federal, permanecia em Brasília conforme registros da Câmara dos Deputados.

Marielle Franco e o motorista, Anderson Gomes, foram mortos há 616 dias em circunstâncias que, até hoje, não se esclareceram.

A repercussão do caso levou Moro a solicitar, via Procuradoria-Geral da República, a abertura de um inquérito na Polícia Federal para apurar o depoimento do porteiro.

Segundo o ministro, há “inconsistências” no depoimento do funcionário, o que pode classificar o ato como “crimes de obstrução à Justiça, falso testemunho ou denunciação caluniosa”.

Aras aceitou o pedido de Moro e enviou o ofício ao Ministério Público Federal do Rio de Janeiro, que solicitou a abertura das investigações em 6 de novembro. No mesmo dia, a Polícia Federal abriu o inquérito.

Perícia questionada

No dia seguinte à citação do nome de Bolsonaro no caso, o Ministério Público do Rio de Janeiro solicitou perícia nos áudios, feita em menos de duas horas e meia.

Foi a partir dessa análise que promotoras do caso sustentaram a tese de que o porteiro mentiu em depoimento, o que motivou a abertura do inquérito contra o funcionário do Vivendas.

De acordo com o Estadão, o Ministério Público garante que os áudios não foram editados, nem adulterados, mas perícia é questionada por especialistas. Segundo eles, não houve tempo suficiente para uma análise aprofundada das provas e, como os computadores do condomínio não foram avaliados, não é possível saber se algum áudio foi suprimido ou renomeado de forma a enganar os investigadores.

O vereador Carlos Bolsonaro (PSC-RJ), filho do presidente, exibiu nas redes sociais gravações alegadamente obtidas com o síndico do Vivendas da Barra. O próprio presidente chegou a declarar que havia pego os áudios para evitar “adulteração”. A declaração provocou questionamentos sobre suposta obstrução de justiça.

Federalização

Em setembro, a então a procuradora-geral da República, Raquel Dodge, pediu que o caso passe ao âmbito federal, o que vai ser analisado pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ) até o fim do ano. Foi um dos últimos atos de Raquel no cargo.

A defesa de Lessa e Queiroz, inclusive, se valem da manifestação de Raquel para pedir a suspensão do processo, alegando falhas na investigação e obstrução por parte da Polícia Civil.

A federalização do caso, no entanto, enfrenta resistências do Ministério Público do Rio, que comanda as investigações.

Em entrevista ao Estadão, o ex-ministro da Defesa e Segurança Pública na gestão Michel Temer, Raul Jungmann, classificou como “injustificável” a ação do Ministério Público do Rio em barrar a federalização.

O Ministério Público repudiou as declarações do ex-ministro e afirmou que o acionou formalmente para dar explicações à Justiça.