Jair Bolsonaro cria a primeira estatal de seu governo

NAV Brasil deve assumir controle de espaço aéreo no país; empresa é a primeira estatal criada desde 2013, no governo Dilma Rousseff.

Sanção contraria viés privatizante apresentado pela equipe econômica | Foto: José Cruz/Agência Brasil
Sanção contraria viés privatizante apresentado pela equipe econômica | Foto: José Cruz/Agência Brasil

O presidente Jair Bolsonaro sancionou a criação da primeira estatal federal desde 2013. A empresa NAV Brasil Serviços de Navegação Aérea será responsável pelo controle do espaço aéreo do país. O ato representa uma vitória da ala militar do governo frente a uma equipe econômica de viés privatizante. O texto sancionado está publicado no Diário Oficial da União (DOU) desta quarta-feira. É a primeira empresa pública criada pela União desde 2013, quando a ex-presidente Dilma Rousseff criou a Agência Brasileira Gestora de Fundos Garantidores e Garantias (ABGF). As informações são do Correio do Povo e da Agência Estado.

A NAV resulta da cisão da Infraero, que administra aeroportos públicos como Congonhas (SP) e Santos Dumont (SP), e ficará com as receitas das tarifas de navegação aérea. Ela será vinculada ao Ministério da Defesa, por meio do Comando da Aeronáutica, e herdará cerca de 2 mil empregados da Infraero que já atuam na área de controle de tráfego aéreo.

Situação de empregados

As transferências de empregados podem superar esse número. Apesar da recomendação do Ministério da Economia, Bolsonaro manteve o artigo 23 da lei. O dispositivo permite a transferência de todos os empregados da Infraero em caso de “extinção, privatização, redução de quadro ou insuficiência financeira”. Para isso, bastará a solicitação de “qualquer órgão da administração pública direta, indireta ou autárquica, mantido o regime jurídico”.

Os empregados da Infraero entram por concurso público, mas no regime de CLT. Apesar disso, um acordo coletivo firmado em 2011, quando o governo começou a privatizar aeroportos, concedeu estabilidade aos trabalhadores até o fim de 2020. Com a intensificação das concessões de aeroportos à iniciativa privada nos últimos anos, os funcionários temiam ficar sem emprego. Os trabalhadores atuaram para emplacar uma emenda que protegesse a categoria, durante tramitação da proposta no Congresso.

Concessões de aeroportos

Hoje, já são 22 aeroportos privados, entre eles o de Porto Alegre. Completam a lista os terminais de Guarulhos, Campinas, Brasília, Galeão, Confins, Natal, Fortaleza, Salvador e Florianópolis. O governo Bolsonaro também leiloou 12 aeroportos neste ano, divididos em blocos regionais no Nordeste, Centro-Oeste e Sudeste. Os empreendimentos privados têm liberdade para contratar empregados que não sejam da Infraero, e o governo já havia sinalizado que esses funcionários poderiam ser dispensados ao fim do prazo do acordo coletivo. A Medida Provisória que criava a NAV foi enviada ao Congresso pelo ex-presidente Michel Temer em 20 de dezembro.

Em 22 de maio, o governo Bolsonaro revogou a proposta que criava a NAV, por meio do envio de outra Medida Provisória, pois a matéria estava trancando a pauta de votações da Câmara. Depois que o problema foi resolvido, a MP foi “ressuscitada” e aprovada numa tramitação relâmpago. Como a proposta perdia validade em 27 de setembro, a Câmara aprovou o texto no dia 25 de setembro, e o Senado, no dia 26. A MP da NAV foi relatada pelo senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), filho do presidente.

Privatizações

Antes da sanção presidencial, o secretário especial de Desestatização do Ministério da Economia, criticou a criação da estatal NAV. Salim Mattar, que trabalha para reduzir o número de estatais, disse que a empresa era “coisa do governo passado” e disse que sua criação não estava garantida. Deputados do Partido Novo ligaram para Mattar para se orientar. Eles tentaram obstruir a proposta, mas não tiveram sucesso. De janeiro a setembro, o governo vendeu ativos estimados em US$ 23,5 bilhões, ou R$ 96,2 bilhões.

A conta considera desinvestimentos – venda de subsidiárias vinculadas a empresas-mãe, como a TAG e a BR Distribuidora, da Petrobras -, concessões de aeroportos, terminais portuários e de um trecho ferroviário, além de campos de petróleo. Até agora, nenhuma estatal federal de controle direto da União foi privatizada durante o governo Bolsonaro.