Um grupo de dez a 20 pessoas permanece, desde as 5h de hoje, na Embaixada da Venezuela, em Brasília, em apoio a Juan Guaidó, opositor ao governo venezuelano, que se proclamou presidente daquele país. A ocupação acontece em meio ao primeiro dia de atividades da 11ª Cúpula do Brics, que reúne os líderes de Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. o governo brasileiro se apressou em desmentir apoio ao movimento. Na Venezuela, o presidente Nicolás Maduro trata o caso como “invasão”.
Utilizando o mesmo tipo de vestimenta – calça comprida e camisa branca – o grupo defende que a indicada por Guaidó para o cargo de embaixadora no Brasil, Maria Teresa Belandria, passe a chefiar a embaixada.
Diante da situação, centenas de apoiadores – tanto do presidente Nicolás Maduro como do opositor se dirigiram à embaixada para acompanhar de perto a situação. Alguns políticos também foram ao local para intermediar as negociações.
Versões conflitantes
“Temos pessoas não reconhecidas dentro das instalações, violando o direito internacional e violentando a Convenção de Viena. Chamamos a comunidade internacional a se pronunciar sobre essa situação que vulnera os direitos humanos dos venezuelanos que vivem dentro da residência oficial de nosso país”, disse o encarregado de negócios da embaixada venezuelana, Federico Meregote.
Já a equipe indicada por Guaidó para o corpo diplomático da embaixada disse funcionários da própria embaixada facilitaram a entrada. “No dia de hoje, funcionários da embaixada reconheceram Guaidó como presidente da Venezuela e fizeram a entrega da residência e dos escritórios da embaixada da Venezuela no Brasil”, disse, em um vídeo disponibilizado nas redes sociais, o ministro conselheiro Tomás Alejandro Silva indicado por Guaidó.
“Valorizamos positivamente o reconhecimento ao governo legítimo do presidente Guaidó, e solicitamos a todos os funcionários lotados na embaixada e nos sete consulados da Venezuela [no Brasil], que adotem essa mesma decisão e se dirijam a seus locais de trabalho para trabalhar em prol de todos os venezuelanos residentes no Brasil”, disse Maria Teresa por meio de nota à imprensa.
“Ação planejada”
Falando em nome do grupo que adentrou na embaixada, o engenheiro Alberto Palombo disse que o grupo é composto por “voluntários em apoio a Maria Teresa”. “A embaixadora é oficialmente reconhecida pelo governo brasileiro. Estamos aqui em apoio à causa [de Guaidó]”, disse o venezuelano. Segundo ele, o grupo que entrou na embaixada é composto exclusivamente por civis.
Entre os parlamentares envolvidos nas negociações, está o líder do PT na Câmara, deputado Paulo Pimenta (RS). Segundo ele, “tudo leva a crer que os invasores são pessoas contratadas, em uma ação planejada para ocorrer durante a reunião do Brics, visando maior repercussão”. “Trata-se de uma gravíssima violação do direito internacional; algo sem precedentes. É de responsabilidade das autoridades brasileiras garantir a integridade desse espaço, que é território venezuelano”, disse.
Governo brasileiro desmente envolvimento
Após o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filho do presidente da República, Jair Bolsonaro, declarar apoio, em postagem no Twitter, à ocupação, o Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República encaminhou nota afirmando que o presidente “jamais tomou conhecimento” ou “incentivou a invasão” da embaixada.
De acordo com a nota, “como sempre, há indivíduos inescrupulosos e levianos que querem tirar proveito dos acontecimentos para gerar desordem e instabilidade”.
Com exceção do Brasil, todos os países dos Brics defendem a permanência do atual presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, no poder.
Interlocutor: ordem não partiu de Guaídó
“Os ventos da Bolívia (onde o então presidente Evo Morales renunciou, no domingo) certamente chegarão à Venezuela. Não obstante isso, a ação de hoje, em meio à Cúpula dos Brics, é contraproducente”, considerou o advogado Fernando Tibúrcio, especialista em direitos humanos e um dos interlocutores de Guaidó no Brasil. Ele garante ter conversado com o presidente autoproclamado da Venezuela. “Em nenhum momento, me pareceu que uma ordem para ocupar a Embaixada tenha partido dele”, comentou Tibúrcio.