“Estão solapando a democracia”, considera Marco Aurélio sobre AI-5

Eduardo Bolsonaro sugeriu nova versão do ato institucional mais duro da ditadura

O ministro Marco Aurélio Mello, do Supremo Tribunal Federal (STF), considerou, nesta quinta-feira, uma “impropriedade” o comentário do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), que sugeriu medidas drásticas, “como um novo AI-5”, para conter manifestações de rua como as que ocorrem no Chile atualmente. As informações foram divulgadas pelo jornal O Estado de S.Paulo.

“Quanta impropriedade. Estão solapando a democracia. E é geral. Exemplo: o inquérito natimorto: sigiloso ao extremo e nele tudo cabe. Aonde vamos parar?”, disse Marco Aurélio à reportagem.

O ministro se referia ao inquérito sigiloso, instaurado por determinação do presidente do STF, ministro Dias Toffoli, que apura ameaças, ofensas e fake news disparadas contra integrantes da Corte e familiares. A investigação vem sendo contestada por ter ocorrido à revelia do Ministério Público e ter levado à censura de reportagens publicadas no site O Antagonista e na revista digital Crusoé.

“Se a esquerda radicalizar a esse ponto, vamos precisar dar uma resposta. E essa resposta pode ser via um novo AI-5, pode ser via uma legislação aprovada via plebiscito, como ocorreu na Itália. Alguma resposta vai ter que ser dada”, afirmou Eduardo Bolsonaro, em entrevista à jornalista Leda Nagle.

A declaração ocorreu em resposta a uma pergunta sobre a participação do Foro de São Paulo nas manifestações ocorridas no Chile. Eduardo disse que Cuba e Venezuela usaram dinheiro do BNDES para financiar movimentos de esquerda na América Latina. “Nós desconfiamos que esse dinheiro vem muito por conta do BNDES que, no tempo de Dilma e Lula, fazia essas obras superfaturadas em Porto de Mariel, em Cuba, ou contrato do Mais Médicos que rendia mais de R$ 1 bilhão para a ditadura cubana. Por que não a gente achar que esse dinheiro vai voltar pra cá para fazer essas revoluções?”, questionou de forma retórica.

“Vai chegar um momento em que a situação vai ser igual ao final dos anos 1960 no Brasil, quando sequestravam aeronaves, quando executavam, se sequestravam grandes autoridade como cônsules, embaixadores, execução de policiais, de militares”, disse o filho do presidente da República.

Durante a campanha eleitoral, um vídeo em que Eduardo declara ser necessário apenas “um cabo e um soldado” para fechar o Supremo Tribunal Federal causou polêmica. Na entrevista à Leda Nagle, o deputado disse que apenas citou uma brincadeira que ouviu na rua.

Essa é a segunda vez em menos de uma semana que o deputado profere uma declaração polêmica em relação às manifestações no Chile. Na terça-feira, Eduardo afirmou no plenário da Câmara que, se houver no Brasil protestos semelhantes, os manifestantes “vão ter que se ver com a polícia” e, caso haja uma radicalização nas ruas, a história vai “se repetir”, sem explicar a que fato histórico se referia. “Aí é que eu quero ver como a banda vai tocar”, disse o parlamentar na ocasião.