Salgado Filho entra na rota de quadrilhas de tráfico internacional

Em 91% por cento dos registros, caminho usado pelos criminosos é voo direto da TAP para Lisboa

Tráfico internacional: Salgado Filho está na roda das quadrilhas que levam drogas ao exterior. Foto: Divulgação/RF

Porto Alegre está na rota do tráfico internacional de drogas. De 2012 para cá foram apreendidos no Aeroporto Salgado Filho mais de 197 quilos de substâncias ilícitas. No caso mais recente, registrado nesta segunda-feira, 8 quilos de MDMA, substância-base para confecção de ecstasy, foram interceptados pela Polícia Federal.

O destino da droga era Madri, na Espanha, passando por uma escala em Lisboa. As substâncias mais traficadas são a cocaína e o ecstasy, e a rota normalmente passa por Portugal. Há, ainda assim, registros de haxixe, skunk e maconha entre as drogas apreendidas e outros países como destino final. Normalmente, a cocaína sai do Brasil para a Europa e África, e o MDMA e os comprimidos de ecstasy fazem o caminho contrário, entrando no país.

Por que Porto Alegre?

O agente de Polícia Federal Marcelo Andrei da Silva, que atua na unidade da Polícia Federal no Aeroporto Salgado Filho, explica que as quadrilhas de tráfico internacional de drogas escolhem aeroportos com menor movimentação por julgá-los menos seguros em termos de fiscalização. “Quando eles perdem muito material em apreensões em Guarulhos (maior aeroporto do país, em São Paulo), eles buscam alternativas onde acreditam que haja menos vigilância, o que não procede”, apontou. Além disso, confirmou que o voo da TAP entre Porto Alegre e Lisboa é o principal alvo dos traficantes.

A maiores apreensões em peso e quantidade foram registradas em 2012 e 2016. Em 16 de outubro de 2012, 70,92 quilos de cocaína foram interceptados com um passageiro com embarque previsto para Lisboa, em um voo da TAP. Já o maior flagrante envolvendo comprimidos de ecstasy ocorreu em 6 de agosto de 2016, quando três pessoas foram presas em posse de 100 mil comprimidos da droga. Duas mulheres seguiam com 75 mil cápsulas para Lisboa e um homem com as demais 25 mil para Amsterdam.

Como agem os criminosos?

Questionado sobre o modus operandi dos traficantes, o agente da PF ressaltou que normalmente as drogas são camufladas na estrutura da bagagem. “Eles tentam esconder o produto, mascarar a substância, mas temos também cães farejadores que auxiliam nas buscas”, contou. Ainda na segunda-feira, um cão da PF auxiliou as equipes a identificar os mais de 8 quilos de MDMA com destino a Madri.

A idade dos traficantes internacionais de drogas varia. Nos últimos sete anos, houve prisões de pelo menos quatro pessoas com mais de 50 anos, 6 na casa dos 40, 10 na casa dos 30 e 17 na casa dos 20. O mais jovem tinha 21, e o mais velho 63.

A nacionalidade dos presos é, majoritariamente, brasileira. Entretanto, há cidadãos da Espanha, Lituânia, Portugal, Grécia, Guiné-Bissau, Filipinas, Paraguai, Ucrânia, Letônia, Uruguai e Argentina. O destino dessas drogas também varia, mas o ponto de chegada costuma ser a Europa ou a África.

Caminho passa por Lisboa

Em 91% dos registros (32 de 36), a rota usada pelos criminosos é o voo da TAP para Lisboa, que conecta Porto Alegre a Portugal sem escala. Em muitos casos, os traficante tenta embarcar diretamente em Porto Alegre e encerrar viagem em Lisboa, onde a droga é repassada.

A rota, contudo, pode se iniciar em outro ponto do Brasil e usar Porto Alegre como “ponte” para o tráfico internacional na Europa. O mesmo acontece já em solo português, quando alguns criminosos seguem adiante, para a Bélgica ou Espanha, principalmente.

Marcelo exemplificou a audácia dos criminosos ao buscarem burlar o sistema de fiscalização. “Muitas vezes, eles voam de São Paulo para Porto Alegre para tentar burlar o check-in internacional direto, contando com o repasse das malas de porão para porão das aeronaves”, contou. Atualmente, entretanto, esse sistema não funciona mais, já que há fiscalização também nas operações em solo, quando as bagagens são transpostas de uma aeronave para a outra. “Hoje em dia não tem mais como fugir dessa fiscalização”, asseverou o agente.