Transição entre inverno e primavera deve ser chuvosa no RS

Além dos resquícios do El Niño, período é de transição entre o inverno e a primavera, e nesta época do ano é comum ter dias mais nublados e com chuva, além da maior probabilidade de ocorrência de temporais.

Foto: Agência Brasil

Agosto foi seco na maioria das regiões do Rio Grande do Sul. Os acumulados totais de chuva ficaram, em média, entre 100 e 150 milímetros na Zona Sul e Planícies Costeira Interna e Externa e entre 50 e 100 mm nas demais regiões (Imagem 1A). Dessa forma, apenas a Zona Sul do Estado ficou com precipitação acima do normal (Imagem 1B). As demais regiões, como Fronteira Oeste, Centro e parte da Campanha, chegaram a ficar com precipitação entre 50 e 100 mm abaixo do normal (Imagem 1B).

As temperaturas mínimas ficaram, em média, entre o normal e acima do normal. As máximas ficaram dentro do normal em todas as regiões, exceto na região metropolitana de Porto Alegre, onde ficaram até 3 °C acima do normal.

Imagem 1 – Foto: Reprodução

Imagem 1: Mapa da precipitação acumulada (A) e anomalia da precipitação (B) durante o mês de agosto de 2019. As escalas de cores indicam o acumulado de precipitação em milímetros (A) e anomalia de precipitação (B), também em mm, onde valores positivos (azul) indicam precipitação acima da média e valores negativos (laranja-vermelho) indicam precipitação abaixo da média. Fonte de dados: CPTEC/INMET

Situação atual do fenômeno ENOS (El Niño-Oscilação Sul) e perspectivas

As condições oceânico-atmosféricas encontram-se sob Neutralidade, ou seja, sem presença de El Niño ou La Niña. No entanto, como já mencionado, a atmosfera ainda responde como El Niño, devido ao tempo de resposta ao término do fenômeno. Desta forma, tem-se observado que nestes primeiros 12 dias de setembro, em geral, cinco deles tiveram chuva, embora não tenham sido tão volumosas, nem tenham ocorrido de forma uniforme em todas as regiões. Além dos resquícios do El Niño, lembra-se que o período é de transição entre o inverno e a primavera, e nesta época do ano é comum ter períodos mais nublados e com chuva, além da maior probabilidade de ocorrência de temporais. Dessa forma, a expectativa é de que a atmosfera ainda responda como El Niño até meados de outubro, com chuvas ainda frequentes.

É muito importante que o produtor fique atento à previsão do tempo neste período, pois algumas janelas de tempo bom, para a semeadura do arroz, podem surgir. Um exemplo é a segunda quinzena de setembro, em que a previsão do tempo estendida, até dia 27/09, tem sinalizado que o tempo estará mais seco, favorecendo o avanço da semeadura. Além disso, a previsão do tempo também será importante para o produtor se precaver de possíveis chuvas intensas que possam vir a ocorrer e, como é conhecido, não se pode prevê-las com muito tempo de antecedência.

As águas do Oceano Pacífico Equatorial, na região do Niño3.4, estão cada vez mais enfraquecidas (Imagem 2). Mas, no geral, o padrão está muito similar ao do mês anterior (agosto) e isso mostra que o padrão de Neutralidade se manterá. A expectativa, segundo o Centro Americano de Meteorologia e Oceanografia (NOAA), nos EUA, é de que a fase Neutra se estenda até o outono de 2020, com 55 a 60 % de probabilidade. Mas o que chama atenção, e preocupa um pouco, são as águas no Oceano Atlântico Sul, que estão praticamente em neutralidade. Se este cenário continuar, ou seja, fase Neutra + a região Niño1+2 com temperaturas das águas negativas + Atlântico neutro, podemos ter um cenário em que as chances de redução nas chuvas aumentarão. E quando se analisa as chuvas até o final do ano na metade sul do Rio Grande do Sul nota-se claramente a redução na frequência das precipitações.

Imagem 2 – Foto: Reprodução

Imagem 2: Anomalia da Temperatura da Superfície do Mar no mês de agosto de 2019. Fonte: Adaptado de CPTEC.O retângulo na Imagem mostra a região do Niño3.4, região que os centros internacionais utilizam para calcular o Índice Niño (índice que define eventos de El Niño e La Niña)

Com relação às temperaturas, há o risco para frio tardio, ou seja, entradas de massas de ar mais frias durante os meses de setembro e outubro, que fazem as temperaturas baixarem mais. Aliás, para a última de setembro, há previsão de as temperaturas baixarem bastante, ficando abaixo dos 5 °C na região da Campanha. No geral, as previsões mostram que as temperaturas mínimas ficarão entre o normal e um pouco abaixo do normal. Já as temperaturas máximas deverão ficar até 1,6 °C abaixo do normal na metade oeste do Estado e dentro do normal na metade leste.

Previsão para a precipitação no trimestre setembro, outubro e novembro
O modelo climático do INMET/UFPel mostra que em setembro as precipitações devam ficar dentro da média em toda a metade sul do Rio Grande do Sul (Imagem 3 B). Já para outubro, o modelo prevê chuvas abaixo do normal na Fronteira Oeste e em parte da Campanha e dentro do normal nas demais regiões (Imagem 3 D). E para novembro, a projeção do modelo mostra chuvas dentro do padrão normal em toda a metade sul do Estado. No entanto, destaca-se olhar também qual é o padrão de chuvas normal em outubro (Imagem 3 C) e novembro (Imagem 3 E), onde nota-se claramente que em novembro chove menos que em outubro.

Imagem 3 – Foto: Reprodução

Imagem 3: Normal Climatológica (A,C,E), anomalia de precipitação INMET/UFPel (B,D,F) para os meses de setembro, outubro e novembro de 2019, respectivamente, para o Rio Grande do Sul. Fonte: Adaptado de CPPMet-UFPel/INMET

Outros modelos têm mostrado que as chuvas deverão ficar um pouco acima da média, quando se considera o trimestre inteiro, ou seja, setembro, outubro e novembro. No entanto, como já mencionado acima, as previsões de precipitação estendidas sinalizam redução nas precipitações entre meados de novembro e dezembro, aumentando o risco de estiagens pontuais e/ou regionalizadas e a preocupação com as culturas de sequeiro, como a soja. Logo, recomenda-se cautela, ou que o produtor preconize pela irrigação da área, pois se sabe que nas regiões como a Fronteira Oeste, Campanha e Zona Sul climatologicamente chove menos durante o verão, o que aumenta o risco de deficiência hídrica.

No entanto, para os produtores de arroz, em anos Neutros há maiores chances de se ter boa disponibilidade de radiação solar, o que seria um alento aos orizicultores.

Fonte: IRGA / Jossana Cera é meteorologista, doutora em Engenharia Agrícola pela UFSM e consultora do Irga