O ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, concedeu entrevista, hoje, para o programa Esfera Pública, na Rádio Guaíba. O chanceler comentou declarações anteriores em que minimizou o aquecimento global, negou o aumento do desmatamento e reforçou que as queimadas da Amazônia “estão dentro da média”. O ministro aproveitou para salientar que o governo não teme que o presidente Jair Bolsonaro seja vaiado durante discurso na Assembleia Geral da ONU, em 24 de setembro, em Nova Iorque.
Inicialmente, Araújo ressaltou que durante a visita aos Estados Unidos pôde perceber que o Brasil é visto como um País que busca fazer acordos e parcerias e que muitos americanos já entenderam qual a mensagem que o governo quer passar. Sobre o Itamaraty ter censurado o acesso a documentos explicando os motivos pelos quais o governo brasileiro passou a rejeitar, na ONU, o termo “igualdade de gênero” ou “educação sexual”, em resoluções e textos oficias, o ministro disse que a medida foi tomada porque “certas coisas” devem ser secretas, por envolverem negociações em andamento. “O que é uma coisa normal que sempre existiu”.
O ministro também disse que as críticas que o governo Jair Bolsonaro recebe não condizem com a realidade que o Brasil vive atualmente. “Há falta de interesse e de dedicação, da mídia também, em estudar calmamente os fenômenos de acordo com os estados, e não se precipitar. É importante primeiro reconhecer e ter conhecimento sobre, por exemplo, o que ocorre na Amazônia”.
Conforme Araújo, falou-se, por muito tempo, sobre uma crise sem precedentes no caso das queimadas da Amazônia, o que para ele é um equívoco, já que essa é uma situação sazonal e que acontece todo ano. “Em um passado recente, principalmente durante o governo do PT, o número de incêndios e da extensão das queimadas era mais o menos o dobro do que é hoje e na ocasião não houve nenhuma gritaria. Então fica claro que é um fato politizado”.
Sobre a expressão “globalismo”, que usa frequentemente em discursos, Araújo disse que há muitas maneiras de ver a palavra. Para ele, o termo vem sendo usado em questões relacionadas à Amazônia, principalmente quando se começa a falar que existe crise e que isso justifica retirar a soberania de um País. “É a ideia de que os problemas são de uma natureza que exigem o fim de uma soberania nacional”, esclareceu.
Quanto à declaração dada nos Estados Unidos de que não acredita em aquecimento global e que uma “ditadura climática” impede o debate, o ministro afirmou que existem dois tipos de aquecimento global. “Um deles é o fenômeno em si, e outro é a narrativa de que o planeta vai desaparecer amanhã e isso não é amparado pelo próprio relatório das Nações Unidas. Há um contraste enorme entre a ciência oficial e o que se fala, por exemplo, da questão de que todo mundo precisa parar de consumir carne, senão o mundo vai acabar, porque a criação de gado produz o desmatamento”.
Sobre a viagem de Bolsonaro a Nova Iorque para a Assembleia Geral da ONU, onde deve falar sobre a Amazônia, o ministro afirmou que não há preocupação. “O presidente vai falar sobre a verdade (…) Nós queremos expôr a verdade dos fatos. Se é a verdade ou não de certas pessoas, aí é problema delas. Como atualmente falar a verdade é objeto de rejeição, não podemos nos preocupar”.