Com assessores demitidos, vice-prefeito chama Marchezan de “desleal” e “não republicano”

Em nota, PP também classifica prefeito de "Reizinho" de uma "monarquia absolutista"

Marchezan Jr. e vice Gustavo Paim. Foto: Joel Vargas/PMPA

De férias, o vice-prefeito de Porto Alegre, Gustavo Paim (PP), reagiu, nesta sexta-feira, à decisão tomada pelo prefeito Nelson Marchezan Junior (PSDB) de exonerar mais de 50 cargos de comissão (CCs) indicados pelo PP – os últimos filiados à legenda que permaneciam na administração municipal. Nos Estados Unidos, Paim criticou duramente a postura de Marchezan ao considerar a medida “desleal”, “não republicana” e tomada no “auge da falta de respeito”. Nessa quinta-feira, o prefeito demitiu os assessores do PP, incluindo CCs com atuação direta no gabinete do vice. Para evitar as exonerações, alguns indicados foram obrigados a trocar o PP pelo PSDB ou outro partido da base.

Em nota, Paim se solidarizou com os progressistas demitidos e assegurou que fica no cargo, lembrando ter sido eleito democraticamente ao lado de Marchezan. “Agora, durante as minhas férias, longe de Porto Alegre, receber relatos de que integrantes do meu gabinete foram chamados para ou se desfiliarem do partido ou serem exonerados foi o auge da falta de respeito ante minha lealdade indiscutível do ponto de vista pessoal e político-partidária”, escreveu o vice. Paim ainda prossegue: “Usar estruturas e cargos públicos com o propósito de tentar aniquilar um partido que ajudou a ganhar a eleição e fortalecer a própria legenda definitivamente não é uma atitude republicana e não é o que se espera da gestão pública”, desabafou.

Após as manifestações de Paim, o PP de Porto Alegre, que rompeu com Marchezan em julho, também disparou contra o tucano. Em uma nota que elenca oito pontos, a Executiva sustenta que ele age como um “Reizinho” de uma “monarquia absolutista”.

A legenda municipal repudia as acusações de que o PP tenha arquitetado o último pedido de impeachment contra Marchezan. O partido também considera que o prefeito não aceitou a possibilidade de Paim concorrer ao Paço Municipal em 2020, após afirmar que não tinha intenção de se reeleger. Por fim, o PP classifica como “ilegal” e “imoral” o processo que culminou com as exonerações dos últimos filiados à sigla.

Confira a integra da nota de Gustavo Paim:

“Acredito na política feita com diálogo. Por isso, diante de todas as dificuldades, busquei ao máximo evitar o rompimento entre Marchezan e Partido Progressista. Não foram poucas as vezes que tentei contemporizar, embora discordasse de muitas atitudes tomadas, especialmente nos últimos meses. Agora, durante as minhas férias, longe de Porto Alegre, receber relatos de que integrantes do meu gabinete foram chamados para ou se desfiliarem do partido ou serem exonerados foi o auge da falta de respeito ante minha lealdade indiscutível do ponto de vista pessoal e político-partidária. Confesso que nunca imaginei que se pudesse praticar uma ação desleal como essa. Usar estruturas e cargos públicos com o propósito de tentar aniquilar um partido que ajudou a ganhar a eleição e fortalecer a própria legenda definitivamente não é uma atitude republicana e não é o que se espera da gestão pública. Ameaçar e constranger servidores a agirem contra sua vontade também não é a atitude que se espera de um líder e de uma correta gestão de pessoas. Minha total solidariedade a tantos que trabalharam por Porto Alegre, honraram o cargo ocupado e que agora são exonerados por desavenças políticas. Sempre procurei ser leal e parceiro. Sou vice-prefeito eleito de Porto Alegre e trabalho, junto com o gabinete, pela cidade. A mim não podem exonerar, pois meu cargo, conferido pelo voto dos cidadãos de Porto Alegre, vai até 31/12/2020. Até lá, estarei trabalhando diariamente, como tenho feito desde o primeiro dia de mandato, por Porto Alegre e pelos porto-alegrenses”.

Confira a íntegra da nota do PP de Porto Alegre:

“CARTA ABERTA AOS PORTO-ALEGRENSES
1. As divergências entre o Progressistas e o Prefeito Marchezan Júnior tiveram início na
votação do projeto de aumento do IPTU. O PP/POA escolheu ficar com o povo de Porto Alegre e com o compromisso assumido em campanha, enquanto o Prefeito escolheu o caixa da Prefeitura.
2. O Prefeito Marchezan não aceita o lançamento de pré-candidatos a Prefeito na Convenção Municipal do PP, esquecendo-se que ele assumiu o compromisso de não concorrer à reeleição. O PP esperava reciprocidade de quem ajudou a eleger, mas Marchezan novamente escolheu abandonar o compromisso de campanha. Faltando mais uma vez com a palavra.
3. O PP repudia qualquer alegação de que o pedido de impeachment contra o Prefeito tenha sido elaborado pelo Partido – prova maior disso é que a bancada do PP votou CONTRA a admissibilidade do processo de impedimento de Marchezan.
4. O Progressistas reitera que discorda profundamente da forma como o Prefeito decidiu
governar a cidade: sem diálogo, desrespeitando a democracia, ignorando e atacando a
Câmara de Vereadores e agindo como se a cidade fosse uma monarquia absolutista, e ele seu Reizinho.
5. A dispensa do gabinete do Vice-Prefeito eleito de Porto Alegre, Gustavo Paim, realizada pelo Prefeito durante as férias do Vice, de maneira abrupta e autoritária, é um desrespeito com o Partido, com o Vice-Prefeito que sempre lhe foi leal, e com a cidade de Porto Alegre que elegeu ambos. É um ato que simboliza perfeitamente a forma de agir do Prefeito Marchezan.
6. Não é verdade que a condução da CCJ (Comissão de Constituição e Justiça da Câmara de Vereadores) atrase votações para prejudicar o Governo. A Comissão, formada por sete
vereadores de diferentes partidos, onde o Governo tem inclusive maioria, está estritamente em dia com seus procedimentos.
7. O constrangimento e a cooptação de servidores para o partido do Prefeito (PSDB), sob
ameaça de demissão, representa ato ilegal, imoral, contrário aos princípios da Administração Pública e à tradição democrática de Porto Alegre e do Rio Grande do Sul. É uma perseguição de servidores por pura vendeta política. É gravíssimo usar cargos da Prefeitura para beneficiar a sua reeleição.
8. Finalmente, o fato da bancada assinar uma CPI não significa acusar o Prefeito de corrupção, apenas significa apurar fatos graves denunciados à Câmara. Aliás, é dever constitucional o parlamento fiscalizar o Executivo. Se não há ilegalidades cometidas pelo Prefeito, ele nada deveria temer”