Menos de 24 horas depois de entrar em cartaz, uma exposição de cartoons acabou retirada, nesta terça-feira, do saguão da Câmara de Vereadores de Porto Alegre. A presidência do legislativo entendeu que elas ofendiam a imagem do presidente Jair Bolsonaro (PSL). Conforme a vereadora Mônica Leal (PP), presidente da Casa, em parte das obras a figura do presidente aparecia “defecando e lambendo as botas do (presidente norte-americano Donald) Trump”, o que ela entende ser incompatível com o local. “Aqui nós temos um espaço dedicado a obras de arte, a mostras históricas, não é um espaço para ofensas”, justificou.
A presidente disse ter sido comunicada do conteúdo por pessoas de fora do Legislativo. Ainda de acordo com Mônica Leal, o pedido para receber a exposição partiu do vereador Marcelo Sgarbossa (PT), sem indicar o conteúdo de todos os desenhos: “o setor de RP recebeu pedido para a exposição, mas na imagem encaminhada não havia ofensas”, argumentou.
Questionada se a retirada das obras não é censura, Mônica disse que “isso fica por conta do juízo de cada um”, mas reiterou que considera isso “uma ofensa, uma agressão”.
O vereador Sgarbossa, líder do PT no legislativo municipal e autor do pedido para a realização da mostra, se disse surpreso com a retirada da exposição. Ele deixou claro que o pedido de uso do saguão da Câmara partiu dos autores dos cartoons, e que “o gabinete do PT foi um mero colaborador para a parte burocrática”. Defendeu, no entanto, que é “natural que os políticos em geral sejam tratados com humor”, e que por diversas vezes “Lula e Dilma foram retratados [em manifestações públicas], como no caso do Pixuleco, e nunca foi feito pedido para retirada”.
Além disso, ressaltou que a Câmara recebe várias exposições, e que essa era apenas mais uma. Sgarbossa também apontou que, para ele, tratou-se, sim, de uma forma de censura: “nos estranha muito que quando criticam alguém a quem apoiam, tenham uma opinião de censura”, ponderou. Sgarbossa e a bancada do PT devem recorrer da decisão.
A exposição
Batizada de “O Riso é Risco – Independência em Risco”, a mostra expunha 36 obras de 19 cartunistas diferentes. Os trabalhos, em tamanho A3, tinham permissão de ficar no hall da Câmara até 19 de setembro. Na descrição da mostra, os artistas dizem que, “armados com seus lápis, pincéis e tintas”, o objetivo é denunciar o “autoritarismo, a intolerância e a violência” e que, “treinados nas lidas do humor gráfico, vêm através do riso apontar para o perigo real da entrega do território, da cultura e da riqueza nacional.”