Diretor-geral do Denatran pede para sair do cargo e critica órgão

Segundo Jerry Adriane Dias Rodrigues, não há uma estratégia para atingir as premissas estabelecidas pelo Código de Trânsito Brasileiro

Foto: Vinicius Loures/Câmara dos Deputados

Em uma carta encaminhada à Secretaria de Transportes do Ministério da Infraestrutura, o diretor-geral do Departamento Nacional de Trânsito (Denatran), Jerry Adriane Dias Rodrigues, pede para deixar o cargo e critica a estrutura do órgão. No documento, Rodrigues alega que falta estratégia e gestão.

Segundo ele, não há uma estratégia para atingir as premissas estabelecidas pelo Código de Trânsito Brasileiro e pelo Plano Nacional de Redução de Mortes e Lesões de Trânsito. As informações foram divulgadas pelo jornal O Estado de S.Paulo.

“Tampouco estou conseguindo estabelecer essa estratégia, a fim de subsidiar o ministro e suas decisões”, argumenta. “Quero deixá-lo à vontade para procurar alguém mais alinhado a sua forma de pensar e de trabalhar. Esta semana faço o meu pedido de exoneração”, escreveu.

Policial rodoviário federal, Rodrigues teve como padrinho político o deputado federal Hugo Leal (PSD-RJ), a quem assessorou até assumir o Denatran, em fevereiro.

Na carta de três páginas ao ministério, o diretor agradece pela confiança nele depositada. “No entanto, depois de passados cerca de oito meses (…), sinto que não estou conseguindo responder à altura (…), razão pela qual estou colocando em suas mãos a função de diretor do Denatran pelas razões que seguem”, cita, no documento.

Procurado pela reportagem do Estadão, Rodrigues inicialmente disse que “desconhecia essa informação”. Quando a reportagem informou que teve acesso ao inteiro teor do documento, o diretor orientou o jornal a procurar a assessoria de comunicação dele para falar sobre o tema. A assessoria de imprensa do órgão também disse que desconhecia o teor.

Ao listar as razões pela qual deseja deixar a chefia do Denatran, Jerry destaca ainda que, para cumprir a missão, a relação do Denatran com a União, os Estados e os municípios precisa estar alinhada.

Para o diretor do Denatran, as pessoas estão “morrendo ou ficando com lesões permanentes” por causa da gestão atual do trânsito. Ele também cita que o departamento, por muito tempo, foi disputado, “nem sempre para atender interesses republicanos”.

Na carta ao ministério, Jerry salienta que, nos últimos dez anos, foram cerca de 400 mil mortos e um número ainda maior de pessoas ficaram dependentes do governo em razão da invalidez. “Esse assunto me motiva e me preocupa. Tenho tentado buscar condições de corrigir os erros e decisões tendenciosas do passado, mas não estou conseguindo.” Ele também reclama de “estrutura de pessoal inadequada, insuficiente e com pouca qualificação”.

Queixas

Desde março, o governo vem sendo criticado pela forma como vem conduzindo as políticas de trânsito. O presidente chegou a cancelar um edital determinando a instalação de 8 mil pontos de radares e a cobrar a retirada das estradas de aparelhos móveis. Ainda enviou propostas ao Congresso afrouxando o sistema de punição (quer aumentar de 20 para 40 pontos) na Carteira Nacional de Habilitação (CNH) e a fiscalização das cadeirinhas.

Em junho, a Associação Nacional de Departamentos Estaduais de Trânsitos, que reúne Detrans dos 26 Estados e do Distrito Federal, divulgou nota manifestando “surpresa” com o envio ao Congresso de projeto de lei que afrouxa regras do Código de Trânsito Brasileiro (CTB).