Porto Alegre: facção criminosa enterra desafetos em cemitério clandestino

Polícia Civil e MP-RS descobriram local através de delação premiada de um dos chefes do grupo

Uma delação premiada permitiu à Polícia Civil (PC) e ao Ministério Público Estadual (MP/RS) descobrirem um cemitério clandestino na zona Norte de Porto Alegre. O espaço era, e ao que sugerem as investigações, ainda é utilizado por uma facção criminosa para enterrar desafetos do grupo.

De acordo com a delegada licenciada da 5ª Delegacia de Homicídios, Luciana Smith, o espaço é coberto por uma mata densa e rodeado por morros, tornando difícil o acesso. As vítimas eram enterradas em covas de aproximadamente um metro de profundidade, e os corpos encontrados, até o momento, foram todos esquartejados, detalha. As investigações em busca do cemitério começaram em 2016, desde então a PC abriu mais de 100 inquéritos para investigar assassinatos ligados ao grupo criminoso.

Testemunhas relataram que algumas das vítimas eram esquartejadas ainda em vida. “As mortes foram as mais cruéis possíveis”, salienta o promotor do MP-RS, Marcelo Tubino. De acordo com ele, aproximadamente 10 corpos já foram encontrados no local, e cerca de 50 inquéritos foram abertos após a descoberta do cemitério.

Conforme Tubino, as vítimas eram pessoas endividadas com o grupo e desafetos de outras facções. “As dívidas não ocorriam apenas por drogas, mas também de compromissos que eles assumiam com o grupo e não cumpriam.” O cemitério clandestino também servia como um “tribunal do crime”, já que muitas das pessoas eram condenadas e executadas no local.

Em 2017, as mortes patrocinadas pelo grupo cresceram devido a uma “guerra” por pontos de vendas de drogas. Naquele ano, a Polícia encontrou alguns corpos no cemitério ilegal, mas ainda não havia confirmação de que o local era utilizado com frequência. A violência da facção ganhou ares mórbidos com diversas vítimas sendo esquartejadas e tendo partes do corpo espalhadas pela cidade. Tubino considera que a descoberta do cemitério ajudou a reduzir as mortes violentas em Porto Alegre.

O delator que apontou a localização do cemitério clandestino é um dos líderes de uma das principais facções que atua no Rio Grande do Sul. O grupo ligado ao tráfico de drogas é classificado pela delegada Luciana como “extremamente violento”. Ele foi um dos presidiários transferidos para o penitenciárias federais no Norte do país. Segundo Luciana, foi após essa transferência que ele decidiu apontar o local da desova. A delegada conta que o homem identificou o ponto exato onde uma mulher desaparecida neste ano foi enterrada, o que comprova, segundo a Polícia, que ele segue sendo utilizado. “Prendemos todos os líderes da facção, mas os substitutos conhecem o modus operandi deles e seguem agindo”, completou.