Repetência, proficiência e evasão: RS enfrenta desafios para alcançar objetivos da ONU

Piratini classifica a educação nas zonas rurais como o principal deles

Foto: Aline Bisso/Divulgação

Mesmo com crescimento de matrículas nos primeiros anos do Ensino Infantil, o Rio Grande do Sul enfrenta problemas para conseguir atingir metas no Ensino Fundamental e Médio. O estudo, divulgado nesta sexta-feira pela Secretaria de Planejamento e Gestão, leva em conta dados do compromisso firmado pelo Brasil com a ONU. Em 2015, o país se comprometeu junto à Organização a buscar cumprir Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) até 2030, sendo o item 4 referente à educação.

As matrículas na Educação Infantil aumentaram 17% desde 2015, sendo 19% na pré-escola e 16% em creches. A participação em instituições privadas caiu de 42% em 2015 para 38% em 2018, aumentando no mesmo nível a presença de alunos em escolas municipais (de 58% para 62%).

A crise econômica enfrentada pelo país nos últimos anos pode ajudar a explicar essa variável, que também ocorreu em matrículas da pré-escola: as privadas tiveram queda de 3 pontos percentuais no triênio (de 32% para 29%), contra avanço de 7 pontos na rede municipal (de 64% para 71%). Ainda assim, a frequência nessa etapa conta com alto índice de evasão, problema sobre o qual o governo está debruçado.

Mesmo com o crescimento de vagas, o Rio Grande do Sul ficou devendo nas metas das séries iniciais do Ensino Fundamental. Mesmo sendo igual ao resultado nacional, com nota 5,8, a meta estadual não atingida. Esse nível é medido a partir de uma prova que avalia a proficiência mínima esperada dos estudantes nas disciplinas de Português e Matemática.

Até 2017, esse objetivo era alcançado, o que não se repetiu nos últimos anos. Se forem levadas em consideração apenas as notas dos anos finais do Ensino Fundamental, o RS não bate a meta desde 2011.

O Ensino Médio não se distancia muito dos dados referentes ao ciclo anterior, e não alcança a meta desde 2009, fazendo com que os objetivos fiquem ainda mais longe de serem alcançados, conforme a Seplag.

Em 2017, o Ideb do Ensino Médio ficou em 3,7 para uma meta fixada em 5,1. A insuficiência de rendimento na etapa fundamental pode ser um dos elementos que compõe a cadeia de maus resultados da fase subsequente, considera a Secretaria.

O Piratini classifica a educação nas zonas rurais como o maior desafio. Em 2018, o Rio Grande do Sul seguia abaixo da média do país para essa população, tendo 19,9% dos alunos desse ciclo com dois anos ou mais de atraso em relação à faixa etária esperada. Mas se a rede estadual é analisada individualmente, esse índice sobe para 24,4%.

A distorção idade-série no geral também preocupa. Observando o Ensino Médio, em 2018, esse atraso era de 28,2% no Brasil, quando entre os gaúchos chegou a 34,7%. Outra vez a rede estadual teve desempenho ainda pior que a média geral, com 38,1% de distorção.

Escolas adaptadas para alunos com deficiência também estão distantes do ideal, com defasagem de aproximadamente 50%. A formação docente é positiva na educação infantil, mas grande parte desses profissionais ainda carece de Ensino Superior. Na média nacional, entretanto, os professores gaúchos com faculdade completa são 85%, contra 78% da média nacional.

O que disse a Secretaria da Educação

Faisal Karam, titular da pasta estadual da Educação, admite os problemas enfrentados pelo Rio Grande do Sul. Sobre a evasão em sala de aula, garantiu correção nas rematrículas automáticas para não haja distorção nos indicadores. “No total, o sistema apresenta 30 alunos, mas você tem 15 ou 16 em sala de aula, e termina com 12, e isso precisa de correção”.

Um dos prejuízos desse cálculo equivocado é a falta de professores, já que um número mais próximo do real pode otimizar a distribuição dos educadores. Não está descartada a possibilidade de que os professores sejam chamados às turmas só após a comprovação de estudantes por sala.

Além disso, a intenção é informatizar todas as salas de aula para que a chamada possa ser feita em tempo real, com controle de carga horária do docente e a confirmação da presença do aluno. Pais ou responsáveis também poderão ser imediatamente informados a partir desse sistema, que deve ser totalmente implantado até o fim do ano que vem.

Sobre os índices de repetência, o secretário elenca aulas de reforço como alternativa para aperfeiçoar os índices de aprendizado. O projeto “Conecta” também foi apresentado, que vai permitir às escolas acesso a internet com maior velocidade, a exemplo das universidades. O desafio, conforme Karam, é qualificar professores para que saibam trabalhar com esse sistema e que tenham habilidade para oferecer atividades atrativas aos estudantes.

Outro projeto abordado hoje é o “Jovem RS”, onde estudantes com perfil inovador e empreendedor serão instigados a aprofundar conhecimentos em robótica e astronomia, por exemplo. Sete universidades gaúchas serão parceiras desse processo, para que os alunos sejam inseridos no universo tecnológico.

“Nossas estruturas são do século XIX, professores do XX e alunos do XXI”, disse Karam, reforçando que é preciso qualificar espaços e mão de obra, também para manter profissionais com capacidade técnica.