Cabral admite pagamento de US$ 2 milhões para Rio sediar Olimpíadas

Ex-governador confirmou em depoimentos a suspeita de propina

Valter Campanato Arquivo/Agência Brasil

O ex-governador Sérgio Cabral admitiu que pagou US$ 2 milhões para transformar o Rio de Janeiro em sede dos Jogos Olímpicos de 2016. Ele disse ter repassado a quantia ao então presidente da Associação Internacional das Federações de Atletismo (IAFF, na sigla em inglês), Lamine Diack.

Apesar da existência das suspeitas sobre a compra de votos pelo Brasil, é a primeira vez que Cabral admite oficialmente o pagamento de propina. Ele participou de durante audiência realizada nesta quinta-feira, na 7ª Vara Federal Criminal do Rio de Janeiro.

Logo na abertura do interrogatório, o juiz Marcelo Bretas questionou Cabral se ele tinha conhecimento dessas negociações “espúrias”. O ex-governador passou a contextualizar a campanha do país para sediar as Olimpíadas e contou que um dia o então presidente do Comitê Olímpico Brasileiro (COB), Carlos Arthur Nuzman, e o diretor de operações do COB, Leonardo Griner, o procuraram dizendo ser necessário pagar uma quantia para garantir os votos sob influência de Diack.

Segundo Cabral, eles disseram que era necessário repassar US$ 1,5 milhão a Diack, que dizia ter oito votos entre os membros da IFAA, incluindo o do ucraniano Sergei Bubka, ex-recordista mundial do salto com vara, e do nadador russo Alexander Popov.

Para conseguir o dinheiro, Cabral relatou que recorreu ao empresário do setor de serviços, Arthur Soares, conhecido como Rei Arthur, atualmente foragido, que tinha inúmeros contratos com o estado do Rio. Arthur, segundo o ex-governador, efetuou o repasse da primeira parte da propina para Diack, depois complementado com o aporte de US$ 500 mil.

De acordo com o ex-governador, o dinheiro pago a Diack pelos votos era de propriedade dele e que o motivo era deixar legados ao estado do Rio para, futuramente, embora de forma indireta, se beneficiar na carreira política.

Paes e Lula ficaram sabendo, garante ex-governador

Cabral disse que o ex-deputado estadual Carlos Roberto Osório, que era funcionário do COB, sabia de toda a transação. Disse também que o ex-prefeito Eduardo Paes também ficou sabendo do pagamento de propina, embora não tenha participado diretamente da ação ilegal. O ex-governador revelou ainda que o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva ficou sabendo, de forma indireta, logo após a vitória do Brasil na votação, mas ressaltou que ele não se envolveu na negociação.

Defesa

O advogado de Nuzman, João Francisco Neto, disse que o cliente é inocente e que não participou das supostas operações de pagamento de propina envolvendo a compra de votos.

O advogado Marcos Vidigal Crissiuma, que defende Griner, se manifestou em nota: “Ficou claro que Sérgio Cabral falta com a verdade e não apresenta qualquer prova de seus relatos, mantendo-se íntegra a prova produzida na instrução criminal que isenta Leonardo Gryner de qualquer responsabilidade. Se houve compra de votos, ele não participou”.