Mesmo vivendo um momento de trégua com a Coreia do Norte, um terço dos norte-americanos não hesitaria em bombardear o país em um ataque preventivo durante uma eventual guerra. É o que afirma a pesquisa da companhia estadounidense YouGov e do Boletim dos Cientistas Atômicos dos EUA, divulgado na última segunda-feira (24).
Para chegar ao resultado, foi elaborado um questionário com alguns cenários hipotéticos de conflito entre os Estados Unidos e a Coreia do Norte, com informações sobre o tipo de ataque e suas consequências.
As 3 mil pessoas que responderam o questionário tiveram como base uma reportagem fictícia, informando que os legisladores americanos estavam contemplando um ataque preventivo para destruir as capacidades nucleares da Coreia do Norte. Com isso, foram criados seis cenários diferentes.
Três grupos foram informados que os Estados Unidos usariam a convencional tática de ataque aéreo, e que um ataque teria 90% de chance de sucesso, mas que a Coreia do Norte poderia atacar tropas aliadas na Coreia do Sul, matando 13.500 americanos e 305 mil sul coreanos. Em outro cenário, a chance de sucesso da operação era igual, mas a Coreia do Norte atacaria três cidades norte americanas como retaliação e em outro, a chance de sucesso era de apenas 50%. A estimativa de fatalidades do lado norte coreano foram 5 mil civis e 10 mil militares.
Outros dois cenários envolviam ataques nucleares, com chance de 90% de eficácia, mas em um deles, até um milhão de norte cidadãos coreanos e outros 100 mil militares morreriam. No último cenário, além do ataque militar, a península também seria atacada por um navio norte-americano.
Depois de ler a notícia e o cenário designado, os entrevistados tinham que responder se preferiam ou não atacar e se, independentemente de suas convicções pessoais, aprovariam se o ataque fosse ordenado pelo presidente. Eles também podiam explicar em suas próprias palavras a opção escolhida.
Os resultados
A grande maioria dos americanos não quer e não aprovaria um ataque preventivo contra a Coreia do Norte, seja nuclear ou tradicional.
Os entrevistados também confiam no poder dos Estados Unidos de impedir os avanços de Kim Jong-Un. Quando questionados se o líder norte coreano poderia ser dissuadido de usar armas nucleares contra os EUA e a Coreia do Sul pela ameaça de uma retaliação devastadora, 63% dos entrevistados disseram que sim.
Outros 57% acreditam que a maneira mais eficaz de parar o presidente é sob ameaça de sobrevivência pessoal e poder político ao invés de um ataque contra a população norte coreana.
Os pesquisadores, porém, se surpreenderam com a mudança na abordagem dos entrevistados quando os Estados Unidos são ameaçados. No cenário em que o país seria atacado como retaliação, as respostas sobre preferência e aprovação de um ataque cresceram.
Segundo os pesquisadores, os analisados devem ter concluído que a necessidade de eliminar a ameaça norte-coreana é mais urgente. “A escolha é: com um ataque temos 10% de chance de retaliação. Sem ataque, 100% de chance de um ataque futuro”, escreveu um dos entrevistados.
Mas, mesmo com a maioria sendo contra o ataque, um terço dos norte-americanos bombardearia a Coreia do Norte sob ameaça de guerra e parecem insensíveis quanto ao número de fatalidades.
Os pesquisadores notaram também que o número na preferência por um ataque nuclear não diminui, com 33% dos entrevistados dizendo que usariam o método de forma preventiva. E o número de mortos também não afetou as escolhas dos entrevistados, sejam 15 mil fatalidades ou um milhão.
A divisão política também fica evidente no estudo, uma vez que os republicanos aprovam mais o uso militar preventivo que os democratas.
Os pesquisadores também notaram que essa aceitação cresce entre aqueles que votaram em Donald Trump. Os apoiadores do presidente preferem um ataque em praticamente todos os cenários, mas ficam mais receosos quando existe apenas 50% de chance de eficácia no bombardeio.
O estudo também mostra o quão desinformados os americanos são sobre o próprio poder militar. Ao ler a notícia sem saber a estimativa de sucesso, um terço dos entrevistados acreditava que o país tinha ao menos 75% de chance de “eliminar com sucesso todas as armas nucleares da Coreia do Norte e eliminar a chance do país de retaliar os Estados Unidos e Coreia do Sul com armas nucleares”. Especialistas, no entanto, dizem que esse resultado é impensável.