Moro desmente existência de acordo prévio para assumir vaga no STF

Ministro voltou a negar ter solicitado transferência do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) para a Pasta da Justiça

Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

O ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, chamou hoje de “fantasia” as afirmações de que tenha havido um acordo, entre ele e o presidente Jair Bolsonaro, para que seja indicado a uma vaga no Supremo Tribunal Federal (STF).

Moro participa de audiência pública na Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ) do Senado. Na reunião, o ministro disse que só conheceu Bolsonaro após o resultado das eleições presidenciais de 2018 e que não havia imposto nenhuma condição ou recebido convite do presidente a respeito de uma vaga no STF.

“Todas as especulações de que eu teria sido convidado lá atrás pelo presidente Jair Bolsonaro, que proferi a sentença pensando em vaga no STF… Eu não conhecia o presidente Bolsonaro”, disse Moro. “Essa história de vaga no Supremo é uma fantasia, o que me parece é que ele [o presidente] se sente ou sentiu com uma espécie de compromisso, mas essa é uma questão que não existe. Não sei se ele vai oferecer, se eu vou aceitar, isso é uma questão que não está posta”, acrescentou.

O ministro disse ainda que aceitou o convite para ocupar um posto no governo federal em novembro de 2018, com o propósito de consolidar o trabalho que vinha sendo realizado pela força-tarefa da Lava Jato, que apura casos de corrupção.

Moro voltou a negar ter solicitado a transferência do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) para o Ministério da Justiça. O órgão chegou a ficar sob responsabilidade da Justiça, mas acabou devolvido ao Ministério da Economia, por decisão do Congresso. “O Coaf me foi oferecido, eu não pedi. Eu não tinha pedido, mas achei que era oportuno”, afirmou.

Durante a audiência, senadores questionaram o ministro sobre a conduta dele à frente do julgamento, em Curitiba, de ações contra réus investigados na Operação Lava Jato. Os questionamentos são reflexo da repercussão da divulgação, pelo site The Intercept Brasil, de supostas conversas mantidas entre o ministro e integrantes da força-tarefa da Lava Jato quando ele ainda era juiz da 13ª Vara da Justiça Federal, em Curitiba.

Cópias das supostas conversas mantidas por meio de um aplicativo de troca de mensagens por celular, o Telegram, foram entregues por uma fonte anônima ao The Intercept Brasil, que, desde o dia 9 de junho, vem publicando reportagens com base nos diálogos atribuídos ao ministro e a procuradores, principalmente o coordenador da força-tarefa da Lava Jato, Deltan Dallagnol.

Em diversas ocasiões, Moro disse não se recordar das conversas e criticou o vazamento das mensagens. “Não me recordo o que eu enviei no mês passado. Não posso afirmar com plena convicção de que eu tenha dito o que estão divulgando, não estou dizendo que essas afirmações são verdadeiras. Elas podem ter sido adulteradas”, afirmou.

Hoje Moro disse acreditar que há um grupo criminoso organizado por trás da divulgação do material. Segundo ele, quem está por trás de “operações de contrainteligência não é um adolescente com espinhas na cara, na frente de um computador, mas sim um criminoso estruturado”.

Moro cobrou que a equipe do The Intercept Brasil entregue todo o conteúdo a que teve acesso às autoridades competentes em que confie para que seja apurada a autenticidade do material. O ministro disse que entregou o celular pessoal à Polícia Federal tão logo percebeu que o aparelho pode ter sido alvo de ataques.