Evento de jovens ruralistas é aberto em Gramado

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Dicas de gestão financeira, análises sobre abertura comercial brasileira e convites para a renovação na representação sindical do agronegócio fizeram parte da noite de abertura, nessa sexta, da quarta edição do Jovens em Campo — seminário que constitui a 100ª etapa do Fórum Permanente do Agronegócio do Sistema Farsul. O público superou 280 pessoas no Centro de Convenções do Hotel Wish Serrano, em Gramado/RS, a maioria formada por jovens empresários e estudantes de curso superior em áreas relacionadas ao setor, além de lideranças da Federação da Agricultura do Estado (Farsul), do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar/RS) e sindicatos rurais, entre outros.

Diante das novas gerações do agro, o presidente do Sistema Farsul, Gedeão Pereira, explicou o que há em comum entre a securitização de dívidas e o combate a invasões e desapropriações de terras no Brasil na década de 1990; ou entre a autorização do uso de soja transgênica e a conquista de novos mercados internacionais para o agronegócio. “Essa é a nossa história, são episódios que mostram para que serve o nosso sistema sindical”, afirmou o dirigente, ao palestrar sobre a importância do trabalho de representação política de classe. Gedeão também falou na responsabilidade dos jovens quanto ao sucesso dos empreendimentos já no presente. “Vocês têm uma grande vantagem, que é ter um cérebro diferente”, referindo-se à capacidade dos millennials de adaptação rápida às novas tecnologias.

A superintendente de Relações Internacionais da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Lígia Dutra, analisou a postura de abertura comercial do governo Jair Bolsonaro e os impactos para o agronegócio. Segundo ela, o Brasil negociou, por muitos anos, acordos focados apenas na indústria, mas a tendência mudou a partir da organização do setor produtivo. Porém, Lígia deixou claro que o mercado internacional é baseado em trocas, sendo assim necessário o investimento em qualidade, gestão e tecnologia nas propriedades para a competição global. Além disso, tão importante quanto melhorar os índices produtivos seria mostrar o que se faz. “O mundo quer ouvir vocês”, garantiu.

A visão inovadora que está sendo implementada gradualmente pelo Senar-RS no meio rural foi o assunto abordado pelo superintendente, Eduardo Condorelli, ao lado de outros gestores da instituição. “O maior desafio do Senar-RS é se tornar referência de conhecimento para qualquer público, seja qual for o assunto”, disse. A medida passa, necessariamente, pelo trabalho de aproximação com ambientes tecnológicos que está sendo colocado em curso desde o ano passado, além da criação de produtos avançados e do investimento em assistência técnica e gerencial nas propriedades. No geral, foram 154 mil atendimentos em 2018, nos mais diversos cursos e treinamentos.

Fechando a programação do primeiro dia, o economista-chefe do Sistema Farsul, Antônio da Luz, mostrou em números os erros de gestão cometidos pelas propriedades típicas de soja e arroz no Rio Grande do Sul. Ele defendeu que o crescimento dos negócios deve ser realizado de forma racional e equilibrada, com base em índices financeiros. O problema é que, em média, os produtores abusam de empréstimos bancários — com juro real acima de 16% ao ano — e não atrelam a compra de máquinas e equipamentos ao lucro dos negócios e à taxa de retorno, errando a mão. “Crédito é muito bom e muito ruim: depende da dose”, alertou da Luz. Para o economista, antes de pensar em expandir as áreas de produção, é preciso verificar se o negócio está suficientemente capitalizado, com índice de liquidez (ativo/passivo) superior a 1, mas isso raramente acontece. Do contrário, seria mais interessante aperfeiçoar o fluxo de caixa, de modo a comprar os insumos em épocas de baixa e comercializar a produção nos picos de preço. “Essa sazonalidade faz toda a diferença no negócio”.

Jovens em Campo reuniu mais de 300 líderes da nova geração do agro

Prestar mais atenção ao cotidiano, estabelecer conexões, encarar as mudanças e imperfeições como oportunidades e seguir os melhores mentores foram alguns conselhos valiosos que mais de 300 jovens do agronegócio receberam no seminário Jovens em Campo, a 100ª etapa do Fórum Permanente do Agronegócio. O evento terminou neste sábado, no Centro de Convenções do Hotel Wish Serrano, em Gramado/RS, após dois dias de rica troca de conhecimentos, palestras técnicas, dinâmica de grupo e debates sobre a importância da representação do produtor rural nas mais diversas frentes.

Atração bastante aguardada pelo público, o escritor e especialista em agronegócio, marketing e new media pelas universidades norte-americanas de Harvard, Pace e MIT, José Luiz Tejon Megido, deu uma aula sobre as atitudes mais importantes para o crescimento pessoal e profissional. “O fundamento da sucessão é a mentoria. A melhor coisa que eu posso fazer hoje é decidir com quem eu vou enfrentar as vicissitudes do futuro”, afirmou o painelista, para logo acrescentar que nem sempre os mentores mais adequados estão na família genética.

Megido também sugeriu aos jovens uma nova visão acerca da imperfeição, que seria a única maneira de alavancar a vida. Depois, defendeu a meta de praticamente dobrar o tamanho da agropecuária brasileira até 2024, prevendo que em breve o agronegócio consistirá em um “algoritmo a ser desvendado” e incentivando as novas gerações a prestarem atenção às diferentes realidades e ideias que acessam no dia a dia.

A diretora técnica da Associação Nacional de Entidades Promotoras de Empreendimentos Inovadores (Anprotec) e líder de Impacto Social do Tecnopuc, Gabriela Ferreira, mostrou alguns exemplos nesse sentido, como startups que tentam mudar a realidade tecnológica das propriedades rurais e desafios e oportunidades do agro neste século — entre eles o elevado índice de desperdício de alimentos no Brasil, 1 bilhão de toneladas por ano, e o crescimento no consumo de produtos saudáveis, 98% entre 2009 e 2014, com projeção de mais 4% anuais até 2021. “Mais do que os pontos, é a maneira como eles são conectados que faz a diferença”, disse. “Temos que olhar para o que a organização sabe fazer, o que o mercado valoriza e o que é viável. É isso que gera inovação e resultados.”

Outro palestrante no painel de inovação foi o agrônomo e jornalista Donário de Almeida, que apresentou conceitos da agricultura 4.0. Depois de apresentar tecnologias de automação, big data, internet das coisas, biotecnologia e monitoramento inteligente para a agropecuária, argumentou que a tendência é de que os lançamentos sejam rápidos e ininterruptos nos próximos anos. Ele convidou o vice-presidente de marketing e vendas da AGCO, Werner Santos, para completar o raciocínio.

Na sequência, o Jovens em Campo apresentou três casos de sucessão rural com um aspecto relevante em comum: filhos que saem e depois voltam para casa, para tocar o negócio da família. Para Gedeão Avancini Pereira, de Bagé, foram as experiências longe da propriedade que o fizeram valorizar mais o negócio. Fernanda Costabeber, de São Sepé, quis provar ao pai que era capaz de colocar a fazenda em outro patamar. E Fernanda Gehling, de Camaquã, lembrou da paixão da família pela terra, desde a infância, na hora de tomar a decisão. Hoje, garantem que não trocam o trabalho por nada.

Durante a tarde, os três participantes do CNA Jovem 2019 — Etapa Nacional falaram sobre a experiência no programa de formação de jovens lideranças do setor. Natacha Lüttjohann, Paula Hofmeister e Edilberto Farinha foram até para as ruas de Vila Madalena, em São Paulo, defender a importância da agropecuária brasileira no dia a dia da população. Quem introduziu o assunto foi a assessora de comunicação da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) Camila Telles.

O superintendente técnico da CNA, Bruno Lucchi, apresentou na sequência as agendas políticas “do passado” e “do futuro” da entidade, que participa de um total de 215 grupos em nível nacional com o objetivo de firmar a posição do setor tanto em discussões antigas (endividamento, assuntos fundiários, infraestrutura) quanto para trabalhar tendências (novas tecnologias, formas de comercialização, fontes de crédito, seguro). “O agro brasileiro é sustentável, gera divisas e tem problemas muito menores do que as pessoas pensam”, disse.

A atividade final do evento teve protagonismo dos jovens, a partir de uma dinâmica de grupo proposta pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas do Estado (Sebrae/RS), o Work Café. Os participantes foram divididos em várias mesas pelo salão, cada uma contendo uma pergunta secreta diferente num envelope, e tinham 10 minutos para discutir o problema e lançar ideias, rabiscando cartazes e abusando da criatividade. Quando o cronômetro chegava no zero, eles trocavam de mesa, conforme planilha entregue individualmente. Os únicos fixos em seus lugares eram os anfitriões, que terminada a dinâmica, apresentaram os insights no palco. Os temas foram liderança, sustentabilidade, gestão, sucessão, comunicação, associativismo, inovação e institucional.

O presidente da Federação da Agricultura do Estado (Farsul), Gedeão Pereira, encerrou o evento garantindo que os “quadradinhos coloridos” chegariam à mesa da diretoria da entidade, porque o trabalho da Federação é um “somatório de inteligências”. “Precisamos que vocês voltem para casa e provoquem as nossas bases, com esse manancial de informações que antes não tinham. Levem aquilo que representamos para o país, para o consumo da população, com vistas para o mundo inteiro, que nos olha como solução para os seus problemas alimentares”.