Sem papas na língua, o ex-ministro e ex-candidato à Presidência da República Ciro Gomes (PDT) classificou, nesta quinta-feira, como constrangedora a crise gerada após a série de reportagens do The Intercept Brasil que sugerem conluio entre o ex-juiz federal Sérgio Moro e o coordenador da força-tarefa da operação Lava Jato no Ministério Público Federal do Paraná, procurador da República Deltan Dallagnol.
Para Ciro Gomes, a condução dos julgamentos na Lava Jato extrapolou as regras da Justiça. Além disso, ele adverte que os questionamentos sobre a validade das sentenças ocorrem, hoje, não por falta de aviso. “Cansei de avisar que esse sucesso de aplausos, com essa gurizada muito jovem na força-tarefa, e o próprio Moro, muito exibicionista, gravatinha borboleta, recebendo homenagens pra lá e pra cá, vinha semeando nulidades”, disparou.
Em entrevista ao programa Esfera Pública, da Rádio Guaíba, Ciro Gomes lamentou ter de ser “duro” ao considerar que Moro pode responder por uma série de crimes no transcorrer da Lava Jato, como formação de quadrilha, abuso de autoridade e violação do sigilo funcional. Para o trabalhista, falta envergadura a Moro para ocupar o cargo de ministro. Além disso, Ciro entende que a credibilidade de Moro foi colocada em xeque após ter aceito o convite de integrar o governo de Jair Bolsonaro, algoz de Lula, após ter condenado o petista enquanto juiz.
“Isso em qualquer lugar minimamente sério do mundo é uma transgressão moral incurável. Sérgio Moro não é uma pessoa séria, não é uma pessoa honrada. Ele não cultiva a decência. Ele não pode ser ministro da Justiça do Brasil, que já teve figuras extraordinárias no cargo”, disparou.
O ex-ministro da Fazenda considera que, no campo jurídico, reflexos serão sentidos após as reportagens externarem a suposta seletividade em julgamentos da Lava Jato. Advogado e professor universitário, Ciro Gomes ressalta que condenações de mais de uma centena de réus podem ser consideradas nulas em função da conduta de Moro e Dallagnol fora dos autos. “Há no Brasil, hoje, 122 bandidos e ladrões do dinheiro público, que, de alguma forma, foram condenados, como Geddel, Eduardo Cunha e o réu confesso Palocci”, enumerou.