Sistema de plantio direto merece atenção nas lavouras brasileiras

Em 25 anos, o sistema de plantio direto no Brasil atingiu 35,5 milhões de hectares, entre 1995 e 2015. Porém, na opinião do doutor em solos e nutrição José Carlos Moraes de Sá, engenheiro agrônomo, apenas 10 a 15% dessas áreas realizam um sistema de plantio direto seguindo todos os seus preceitos. A recuperação desse sistema nas lavouras do país de maneira sustentável foi o tema do primeiro painel dessa quinta-feira (06/6) na 1ª Jornada Técnica da Rede Técnica Cooperativa (RTC), que ocorre em Gramado (RS) até sexta-feira (7). O painel foi moderado pelo engenheiro agrônomo José Ruedell.

Segundo Moraes, o manejo correto do solo é primordial para manter os fluxos adequados de água, ar e nutrientes do solo capazes de atender as demandas dos cultivos. “Solo 100% coberto proporciona maior atividade”, afirmou sobre a cobertura com palha. Prova disso é a pesquisa sobre a cultura da soja que, quando semeada em áreas em que o milho foi utilizado no sistema de rotação, tem seu rendimento incrementado de 500 a 1600kg por hectare. Conforme ressaltou o pesquisador, a palha da cultura anterior, fonte de carbono e nutrientes, é essencial para manter o equilíbrio do solo e garantir a rentabilidade do sistema de produção. “Precisamos de oito a 12 toneladas por hectare de palha anualmente para manter um sistema equilibrado”, pontuou.

Uma das maneiras de garantir a saúde do solo, nesse sentido, é o que Moraes chamou de “rotação de raízes”. Para ele, é fundamental observar o tipo de raiz das espécies cultivadas, pois elas determinarão aspectos importantes para o aumento da qualidade do solo. “Cerca de 60% do carbono que vai se acumulando no solo vem das raízes”, exemplificou.

A preocupação com as raízes também foi destacada por Antônio Luis Santi, doutor em ciência do solo e agricultura de precisão, que ministrou palestra na segunda parte do painel. “Mais importante que implantar uma espécie, é saber que espécie devo plantar e o porquê”, alertou. Durante a apresentação, Santi expôs fotos de duas espigas de milho, oriundas de plantas cultivadas a 150 metros de distância e que apresentavam características muito diferentes entre si. Esse exemplo, para Santi, é a prova de que é necessário investir em tecnologias capazes de corrigir a variabilidade das lavouras. “A digitalização da agricultura é inevitável”, pontuou, destacando que não existe milagre na agricultura e que nenhuma tecnologia corrige erros de manejo. “Temos a obrigação de fazer o básico bem feito. Lavoura sem palha não merece receber tecnologia alguma”, finalizou.