Nos últimos dias, uma moda viralizou em todo o País. E não foi diferente em Porto Alegre. Passageiros de ônibus estão se reunindo em grupos de WhatsApp para trocar informações sobre as linhas. O foco dos usuários é comunicar a localização dos coletivos, em uma espécie de GPS colaborativo.
Minha roommate acabou de me apresentar o conceito de GRUPO DE WHATSAPP DO ÔNIBUS. Isso mesmo, os passageiros e os motoristas tudo lá
— Felipe Fagundes (@felipe_fgnds) 29 de maio de 2019
O tweet é do carioca Felipe Fagundes. Ele relata que uma amiga fazia parte do grupo de passageiros da linha Méier – Alvorada no Rio de Janeiro. Na capital gaúcha, o primeiro grupo é atribuído à estudante Valéria Girelli, usuária da linha 375 – Agronomia, que se inspirou na ideia. “De manhã, tu está na parada e espera 20 ou 25 minutos para o ônibus”, conta a aluna do curso de Ciência da Computação na Ufrgs. “Eu falei para o pessoal, vamos começar a fazer para o Agronomia”, relembra. O grupo ganhou participantes em questão de minutos.
Depois do primeiro grupo, a ideia se espalhou até chegar em uma página de memes no Facebook. “Eu vi um post do grupo Porto Alegre Memes. Só que, quando eu fui procurar, eu não achei as minhas linhas”, conta Leonardo Hoffmann, jovem aprendiz de uma rede de supermercados e criador dos grupos das linhas 831 – Parque dos Maias e D73 – Diretão Via Fernando Ferrari, ambas da zona Norte.
Atraso é a principal reclamação
Além da localização dos veículos, os usuários discutem outros assuntos. O estudante Gustavo Kremer, que cursa Ciência da Computação na Ufrgs, é um dos milhares de passageiros que fazem diariamente o trajeto entre o Centro Histórico de Porto Alegre e os campi da PUCRS e da Universidade Federal. O jovem administra os grupos do D43 – Universitária e do 343 – Campus/Ipiranga. Segundo Kremer, “o pessoal participa, fala se está atrasado, se deu alguma coisa no caminho ou se o ônibus quebrou”.
Já de acordo com Leonardo, a tarifa de R$ 4,70, considerada “muito cara” pelos membros do grupo do Parque dos Maias, é um dos assuntos discutidos na rede. As mulheres também se reuniram para criar um grupo a fim de se precaver em casos de assédio sexual nas linhas, explica Valéria Girelli. “Talvez isso sirva para várias situações, de assédio, assalto, preconceito de qualquer tipo”, sugere.
A principal reclamação, no entanto, segue sendo o atraso e a dificuldade de saber a localização dos ônibus. Um decreto da Prefeitura de Porto Alegre obrigou a instalação de GPS em todos os veículos até dezembro de 2018. Os equipamentos ainda estão sendo instalados e testados.
“A gente vai para a parada de ônibus e nunca sabe se vai conseguir pegar no horário certo”, protesta Júlia Gonçalves, estudante de Administração e moderadora do grupo 187 – Padre Reus. “O grupo não resolve o problema da falta de GPS nos ônibus”, considera Gustavo Kremer. O estudante fala que a criação da rede “dá uma amenizada na situação, porque é muito melhor, pelo menos, saber o que está acontecendo do que ficar esperando”.
EPTC promete GPS em três meses
Para coletar os depoimentos desta reportagem, convidamos cada administrador de grupo para responder aos nossos questionamentos via mensagem de áudio no WhatsApp. A Empresa Pública de Transporte e Circulação também foi convidada a participar. No entanto, o órgão que regula o trânsito em Porto Alegre preferiu responder por escrito.
Para a EPTC, a iniciativa dos estudantes é vista com bons olhos, uma vez que ela não fere regramentos, além de auxiliar no cotidiano dos cidadãos. No entanto, a empresa reitera que “trabalha fortemente em uma solução definitiva e bem mais completa ao cidadão que é o monitoramento por GPS de toda a frota”. A expectativa é de que o sistema esteja funcionando em três meses.
Sobre o atraso, a empresa sustenta que a implantação do GPS nos ônibus “foi prejudicada em alguns meses devido à crise financeira e alguns problemas técnicos que os equipamentos sofreram em Porto Alegre”. A falta de sinal de celular em áreas de sombra forçaram a instalação de antenas extras no teto dos coletivos. O processo está em fase final de ajustes, segundo a Prefeitura.
A EPTC esclarece ainda que motoristas e cobradores podem participar dos grupos de WhatsApp, desde que a atividade não interfira nas atribuições principais, lembrando que os condutores não podem usar o celular enquanto dirigem.