A bitoca da Isolina

"Este jornal vai ser feito para toda a massa, não para determinados indivíduos de uma facção". Foto: Arquivo CP

Maria Isolina era uma guria desengonçada, branquinha e loirinha, das bandas de Horizontina que aos 14 anos só tinha uma preocupação. Quem lhe daria o primeiro beijo.
Quase todas as coleguinhas do colégio já tinham passado pela experiência com os galãs da época , que toda a adolescente mais saidinha sempre tem um quedinha por algum guri despelechado ainda trocando a voz mas cheio das idéias libidinosas pro lado das gurias. Só restava ela e mais duas , a Domícia Gorda e a Domícia Magra.
A ansiedade de Lininha como era chamada, não a deixava dormir direito, vivia em constante luta em quando, como, e quem seria o agraciado que oportunizaria a bitoca tão sonhada.
Nem conseguia prestar atenção na aula só pensando naquilo. E observava que dois dos coleguinhas,o mais bonitinho da sala e um metido a sebo, feio, mas bom de bico eram os alvos das queridas. E ela ali, na espera de um milagre e mais as outras duas a “rechonchuda” e a “desmilinguida“, que não tinham sido lacradas com um selinho dos ditos cujos.
E tinha um ciúme botado da Greice Henriqueta que já tinha abaralhado umas quantas bitocas com a gurizada do colégio inclusive com o sonho de consumo de Lininha o emplumado e um tanto experiente Jerônimo.E ainda tinha uma cosa, a Greice Henriqueta era a melhor amiga de Maria Isolina e esta se sentiu traída quando soube que os dois andavam de riquififes e charamuscas na dobrada da esquina.
Certo dia, de chacota, a trancaram na sala de aula com o mais aperado dos rapazes, não rolou nada. Até que um dia alvorotada e de cabeça quente se decidiu que o momento seria agora. E partiu prás cabeças! Se foi com Jerônimo num refestelo dos mais botados no meio dos sacos de arroz do avô do moçoilo. Mas que decepção, não gostou do que provou. Se repunou daquela tramação de língua e ficou meses sem um ósculo tapadinha de nojo.
Passado um certo tempo resolveu tentar uma nova investida no cabo do beijo. Criou coragem e se atracou com o Dirceu Bento que não era bem lá essas coisas, mas…o que tinha para o momento, o que havia sobrado no apagar das velas.
Pois não é que Maria Isolina gostou do que provou. E foi uma beijação que não acabava mais, meio que um misto de gosto ou não gosto do gosto mas é bom, enfim… Se lavou a Lininha de sair de beiço inchado que nem tivesse sido picada por um zangão.
Até hoje ela sente saudade dos velhos tempos, e vez em quando se pega olhando para o nada, para longe, para aquele momento inesquecível quando Dirceu Bento entre um ósculo e um amplexo lhe tirou suspiros do fundo do peito e lhe marcou para sempre a vida de guria que agora adulta e namoradeira, tem em mente que quando sossegar e se aprontar para casar vai ter uma casal de gêmeos que espera sejam meninos para colocar o nome aqueles que ainda hoje guarda na memória, Jerônimo e Dirceu Bento. !À las pucha, que baita homenagem !