“Jango sofreu um golpe”, reitera Alceu Collares sobre ditadura militar

Em entrevista à Rádio Guaíba, pedetista enfatizou apreço por Brizola, disse que o Brasil não é mais racista e se mostrou admirador de Che Guevara

Alceu Collares. Foto: Lucas Rivas

Em meio à decisão polêmica do presidente Jair Bolsonaro (PSL), que orientou as Forças Armadas a saudar os 55 anos do início do regime militar, o ex-governador do Rio Grande do Sul Alceu de Deus Collares (PDT) reiterou o entendimento de que João Goulart sofreu um golpe após a articulação dos militares. “Lamentavelmente, foi um golpe. Interromperam o caminho da realização do trabalhismo brasileiro”, considerou.

Por mais de meia hora, Collares, que completa 92 anos em setembro, atendeu à Rádio Guaíba. Questionado sobre o afastamento da ex-presidente Dilma Rousseff, a quem chamou de “autêntica e verdadeira”, ele rebateu, em parte, a narrativa petista de que ela também tenha sido vítima de um golpe, no caso, parlamentar. “Não foi golpe, mas não foi democracia”, pontuou.

Alceu Collares ainda analisou o cenário da política nacional e estadual e reafirmou o apreço pelo líder maior do trabalhismo, Leonel Brizola. “O melhor governador da história do Rio Grande do Sul foi Brizola. Ninguém consegue ter o alcance ideológico do Brizola. Ele queria servir a nação”, salientou.

Collares também não poupou elogios a Bolsonaro e Eduardo Leite. “São homens de bem. Tenho admiração pelo governador Eduardo Leite. Tenho convicção de que estamos com um governador sério”, frisou.

Sobre os novos rumos do trabalhismo nacional, o ex-governador considerou a deputada estadual Juliana Brizolla (PDT) um bom quadro do partido para alçar novos voos, como a disputa à Prefeitura de Porto Alegre.

Único governador negro da história do Rio Grande do Sul, Alceu Collares também considera que o Brasil não pode mais ser classificado como um país racista. “Não considero o Brasil racista. O negro hoje vive de cabeça erguida. A raça negra tem consciência de que precisa superar muitas dificuldades. Nós lutamos com esta origem”, avaliou.

O ex-governador também comentou as funções que exerceu no Conselho da Usina da Hidrelétrica Itaipu Binacional. Questionado se o cargo de conselheiro pode ser considerado uma moeda de troca para aliados políticos, o pedetista respondeu. “Pelo Conselho de Itaipu passou gente muito autêntica e muito boa. Ali se praticava o bem público”, disse.

Governador gaúcho entre 1991 e 1995, Collares ainda lamentou o atual desequilíbrio econômico e financeiro vivido pelo Estado e disse que não anteviu um agravamento da crise ainda durante a gestão dele. “Eu nunca pensei que o Rio Grande do Sul chegaria nessa crise. Mas nunca deixei de pagar o funcionalismo. Deve ser doloroso chegar no fim do mês e o secretário da Fazenda falar que não tem dinheiro para pagar”, admitiu.

Por fim, Collares também explicou por que mantém um quadro com uma foto de Che Guevara no escritório dele. “Tenho enorme admiração por Che Guevara. Sou admirador dele. Foi uma das figuras de passagem política mais autentica e real”, finalizou.