Doleiros mandaram dinheiro para exterior no esquema de Cabral, diz MPF

Investigadores da Operação Câmbio, Desligo, extensão da Lava Jato, chegaram a eles por meio das delações de outros doleiros

Os doleiros Sérgio Guaraciaba Martins Reinas e Nissim Chreim, alvos de mandados de prisão nesta quarta-feira, eram responsáveis pelo envio de dinheiro desviado para o exterior na organização criminosa liderada pelo ex-governador do Rio, Sérgio Cabral. A informação é do procurador da República, Felipe Bogado. A mulher de Nissim, Thania Nazli Battat Chreim, e o filho dele, Jonathan Chahound Chreim, também são alvos da nova etapa da Operação Câmbio, Desligo, iniciada em maio de 2018.

“Eles compunham essa organização criminosa e atuavam enviando dinheiro para o exterior e também trazendo dólares para a entrega em espécie aqui no Brasil para a organização criminosa. Eles operavam o sistema de dólar cabo, que consiste na entrega de reais seja em espécie seja mediante pagamento de boletos ou compensação de cheques com a contraprestação de entrega de dólares lá fora em offshores que eles indicavam”, informou o procurador. Os quatro são investigados por lavagem de dinheiro, evasão de divisas e participação na organização criminosa.

Sérgio Reinas foi preso em São Paulo. Os integrantes da família Chreim não foram encontrados e incluídos no sistema nacional de foragidos.

Segundo Bogado, o doleiro Dario Messer era o cabeça da organização e utilizava o esquema “como um banco paralelo que casava operações que tinha um sistema próprio”. “Eles [Reinas e Chreim] abasteciam com reais em espécie que acabavam vertendo para pagamento de propinas a políticos e por outro lado promoviam verdadeira evasão de divisas daqueles que precisavam mandar o seu dinheiro obtido ilicitamente do Brasil para o exterior”, afirmou.

Os investigadores da Operação Câmbio, Desligo, extensão da Lava Jato, chegaram a eles por meio das delações de outros doleiros: Vinícius Claret, conhecido como Juca Bala; e Cláudio Barboza, chamado de Tony Juca, que trabalharam com Dario Messer no mercado paralelo de câmbio.

“A rede de doleiros que nos foi apresentada é bastante extensa. As apurações continuam. Há outros doleiros investigados e, portanto, essa operação não se esgota hoje”, apontou.

A estimativa é que Reinas movimentou R$ 37 milhões e Chreim, US$ 22 milhões. Foram encontrados registros de operações de 2011 a 2016. “São valores estimados porque os sistemas não contemplam todo o período dessa organização criminosa que remonta a década de 80”, revelou.

Presos

De acordo com o procurador, Nissim Chreim era conhecido por movimentações de dólar cabo. A mulher Thania Chreim aparece como beneficiária de offshores, que receberam dólares fora do país, e há indícios de que atuava como operadora do sistema paralelo de câmbio. O filho Jonathan Chreim é investigado por diversas transações com cheques. Ele é alvo de mandado de prisão temporária. Os pedidos de prisão de Sérgio Reinas, Nissin e Thania Chreim são preventivos.

O procurador disse ainda que o casal Chreim fazia constantes viagens entre o Brasil e o Panamá. Desde que a Justiça expediu os mandados de prisão no fim de fevereiro, a Polícia Federal passou a monitorar a movimentação deles. “A Policia Federal acompanhou a movimentação do Nissin e da Thania e confirmou que eles estão no Brasil desde o dia 7 de março com previsão de saída no dia 22 de março, portanto, tivemos um período curto para deflagrar esta operação. Infelizmente não foram encontrados, mas a informação é de que ainda estão no Brasil”.

Caso a família Chreim tenha saído do país, será incluída no alerta vermelho da Interpol.