O segundo dia de julgamento do assassinato de Bernardo Uglione Boldrini começou às 9 horas desta terça-feira com o depoimento de Juçara Petry, mulher que o menino chamava de mãe. Os réus foram retirados da sala do júri a pedido da testemunha. Juçara revelou que tentou conversar com Graciele Ugulini, madrasta do menino, sobre falta de cuidados com que ele se encontrava. “Ele não gostava da Kelly (apelido de Graciele), só que o Boldrini via e não fazia nada”, afirmou a testemunha.
Juíza questionou como foi o episódio em que Bernardo procurou a Justiça. Em 2014, ele foi ao Ministério Público para reclamar de falta de atenção familiar. “Ele perguntou pra mim como fazia pra falar com o juiz. Nunca imaginei que ele tava procurando socorro”, afirmou. “Ele dizia: ‘eu odeio a minha casa’”.
“Ele dizia que eu era mãe dele. Era muito difícil um final de semana em que ele não ficava lá em casa”, informou a testemunha, ao falar sobre frequência em que Bernardo costumava ficar com ela. “Tinha vezes que ele estava num coleguinha e ficava sem poder entrar em casa. Aí meu marido dizia que ele tinha que ter o controle e a chave da casa. Chegamos a conseguir um telefone com chip para o Bernardo”, relatou Jussara Petry.
“Na primeira comunhão dele, ligaram da igreja e disseram que ele não faria. Fui ver o que estava acontecendo e perguntei a ele. Me disse que a Kelly não iria dar roupa pra ele ir e nem teria festa como todos os coleguinhas”, contou. “Acabamos juntando uns amigos, compramos um bolo, fizemos um churrasco pra ele. E o pai não ligou pro Bê. Ele ficou triste”.
“Ele (Bernardo) tomava um remédio tarja preta e ficava sonolento. Questionei se ele tomava direitinho e se estava certo e ele dizia que sim. Com pai médico, achava que estava correto”, diz a testemunha. “Duas vezes ele veio de mala. Mas as roupas eram de clima quente e era frio. A gente percebia que ele era quem arrumava as coisas, inclusive com um tênis grande do Boldrini. Aí eu comprei um calçado pra ele”, relatou Juçara.
“Arrumamos um telefone e meu marido fez até CPF pro Bernardo nos Correios para colocar o chip. Deixávamos nossos números salvos com o nove na frente para ele nos ligar a cobrar. Volta e meia meu marido colocava uns 15 pila no saldo”, disse. “Teve um dia que ele me confessou que errou alguns problemas de matemática porque gostaria que meu marido seguisse o ensinando. Este dia doeu”, contou muito emocionada.
“Teve um Dia da Mães que eu não poderia ir à escola. Pedi que minha irmã fosse porque eu sabia que ninguém iria”, seguiu a testemunha. “No último Dia dos Pais, ele me ligou e disse que iria para minha casa. Quando vimos, ele já estava lá em casa. No dia anterior foi gravado aquele vídeo horrível”, revelou Juçara, citando as imagens em que a família aparece brigando com Bernardo.
“Algumas vezes, a gente dizia para ele ficar em casa com os pais. Com isso, ele ficava uns dois dias sem ir na minha casa. Quando íamos ver, ele tava num amiguinho ou outra casa”, relatou. “Todo mundo cuidava dele. Não era só eu. Tinham outras mães e professoras que se falavam para saber onde e como o Bê estava”.
“Uma coisa que chocou bastante foi nos dias depois do desaparecimento. Todo mundo sujo de barro e a cidade procurando o Bernardo e o pai foi para Argentina fazer compras com a Kelly”, salientou Juçara.
Acompanhe a transmissão do Tribunal de Justiça:
https://www.youtube.com/watch?v=uteKIToporI