Pesquisa gaúcha divulga dados sobre vazamentos de conteúdo íntimo

Projeto Vazou colheu 141 depoimentos anônimos, sendo 84% mulheres

Uma pesquisa gaúcha, realizada ao longo de 2018, apontou dados sobre o vazamento de conteúdo íntimo na internet. O vazamento, que é considerado crime desde 2012, levou o Grupo de Estudos em Criminologias Contemporâneas (GECC), a investigar a incidência.

Coordenado pelo professor de Direito da Faculdade Estácio do Rio Grande do Sul, Leandro Ayres França, o ”Projeto Vazou” colheu 141 depoimentos anônimos, sendo 84% mulheres. Quem respondeu a pesquisa tem, em média, 24 anos, mas tinha 19 quando o vazamento de imagens aconteceu.

Ao menos 81% informaram conhecer quem publicou os arquivos. Quem vazou o conteúdo foi, majoritariamente, homens com idade média de 23 anos à época da gravação. O estudo também indica que o meio de compartilhamento mais comum foi a plataforma WhatsApp (70%), seguida pelo Facebook (26%).

Segundo o coordenador do projeto, Leandro França, “a falta de dados oficiais e registros públicos sobre o assunto nos motivou. Nós falamos em peneiras da vergonha. Como envolve intimidade, as vítimas têm que passar por alguns enfrentamentos, como contar para a família que vazou uma foto nua, procurar um profissional, seja advogado ou terapeuta. Além disso, se quiser levar adiante, tem o sistema policial e judicial. Constantemente, a vítima vai ter que se expor, então, muitas vezes as pessoas não denunciam por isso”, comenta.

A maior parte das vítimas (82%) teve algum tipo de relacionamento afetivo com a pessoa responsável pelo vazamento não consentido. Mais da metade (60%) sabia da gravação e forneceu o material. Cerca de 44% acreditam que o motivo do vazamento foi “vingança”. Na maioria dos casos registrados na pesquisa, não houve investigação policial (82%), nem processo judicial (86%).

“Existe uma mitologia em torno dos crimes cibernéticos. Algumas pessoas acham que são estranhos que invadem o computador, quebram os mecanismos de segurança e vazam as fotos. Mas, a maior parte desse vazamento não consensual é feito por pessoas com quem as vitimas tiveram relação. É mais fácil de identificar, pois a maior parte dos casos vazados são de fotos ou vídeos enviados consensualmente, os chamados nudes. Depois, os homens, em sua maioria, não aceitam o fim da relação e querem expor e humilhar a ex-companheira”, salienta França.

Os efeitos mais recorrentes sobre as vítimas foram ansiedade, presente em 63% das respostas, seguida de isolamento do contato social (58%), depressão (56%), transtorno de estresse pós-traumático (33%), automutilação e pensamentos suicidas (32%). Também foram registrados assédios em lugares públicos (27%), abandono de estudos (16%), mudança de residência (11%), agressões (7%), perda do emprego (6%) e dificuldade para conseguir novo emprego (5%).