A busca por novas alternativas de renda e a necessidade de medidas governamentais que defendam a cadeia orizícola marcaram a Abertura Oficial da Colheita do Arroz nessa sexta-feira, na Estação Experimental Terras Baixas da Embrapa Clima Temperado, em Capão do Leão (RS), na região de Pelotas (RS). Autoridades e produtores rurais prestigiaram o desempenho das colheitadeiras John Deere, Massey Ferguson e New Holland na lavoura preparada para o evento. A cerimônia se encerrou com a tradicional “chuva de arroz”.
O presidente da Federarroz, Henrique Dornelles, destacou em seu discurso que o Rio Grande do Sul tem a segunda maior produtividade do mundo em áreas de mais de um milhão de hectares de arroz e, ao mesmo tempo, os piores preços e competitividade, assim como a menor renda. “O brasileiro se alimenta de forma muito barata, especialmente de arroz, na comparação com outros países, e quem está pagando isso é o produtor rural. E só se tem preço quando ocorre quebra de produção”, ressaltou.
Dornelles destacou também que o arrozeiro consegue fazer colheitas com muita competitividade, mas enfrenta um mercado extremamente nocivo aos produtores. Lembrou que é por isso que a Federarroz defende a reconversão de arroz para soja, milho e pecuária. “Apesar de tudo o arroz é responsável por mais de 2% da arrecadação de ICMS do Estado. Foi a primeira cultura a instalar a Nota Eletrônica. E, tenho certeza, que se reduzirmos a área e continuarmos sofrendo estas questões do Mercosul o u mesmo a guerra fiscal, quem sofrerá será a economia gaúcha através da sua arrecadação e pela menor circulação de dinheiro, principalmente na Metade Sul do Estado”, colocou.
O evento deste ano teve o objetivo de dar ao produtor a opção de que se, no próximo ano, verificar que não terá preço ou abundância de produção, poderá plantar uma outra cultura, tirando, assim, afirmou Dornelles, a previsibilidade do mercado que acabará ficando muito mais atento ao arrozeiros. “Diversificar não é somente sustentabilidade, é também mexer com o mercado que hoje está muito confortável porque sabe que o gaúcho entrega 8 milhões de toneladas de arroz, embora, infelizmente esse ano não seja o caso em função de quebra de safra aliada a uma redução de área, e todo esse contexto levou a um grande endividamento que superou a R$ 2,5 bilhões”, ressaltou.
O presidente da Federarroz salientou, ainda, que no momento em que os Estados estão querendo eliminar a Lei Kandir para arrecadar mais, existem alguns governos estaduais dando incentivos fiscais para o arroz importado. “Hoje o Rio Grande do Sul é o maior fornecedor de arroz para todo o Brasil e para vender a uma indústria de fora do Estado, tem que pagar o maior nível de ICMS, portanto é estruturante que se possa escoar esse arroz através de uma tributação favorável, observou, destacando que há neste governo uma mudança de postura e a ministra da Agricultura, Tereza Cristina, está tratando pessoalmente de vários assuntos que interessam ao setor orizícola.
Endividamento, rentabilidade e crédito foram alguns dos assuntos destacados pelo secretário nacional de Política Agrícola do Ministério da Agricultura, Eduardo Sampaio. Ele lembrou da disponibilização pelo Banco do Brasil de uma linha de crédito de R$ 500 milhões com juros de 8,5% ao ano para apoiar a estocagem. Em relação à questão do arroz importado, Sampaio enfatizou que o governo não pode impor restrição à compra do cereal do Mercosul.
O secretário disse, ainda, que na próxima terça-feira, dia 26, a ministra da Agricultura, Tereza Cristina, convocou uma reunião com objetivo de definir ações que possam melhorar a integração entre os diferentes representantes da cadeia orizícola. Além disso, o governo aguarda para segunda-feira, dia 25, uma resposta sobre negociação para a abertura do mercado para o México.
Sampaio destacou que na última quinta-feira foi realizada, no Rio Grande do Sul, uma reunião com parlamentares. Um estudo pode originar a criação de um fundo de aval compartilhado para melhorar a condição de refinanciamento de dívidas. “Estamos trabalhando para definir soluções estruturantes fazendo o máximo para atender o maior número de produtores”, disse.
Por fim, o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, destacou três pautas prioritárias do setor arrozeiro. Sobre a modernização do Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga), disse saber da demanda por um trabalho técnico e responsável do órgão e que reconhece que as taxas que compõem a remuneração do instituto podem ser canalizadas cada vez mais para a pesquisa no arroz. “Infelizmente, boa parte desses recursos é drenada para sustentar o déficit existente no governo. A medida da ampliação da capacidade de investimento, com as taxas que compõem o orçamento, vem da nossa ação de reestruturação do Estado para que se torne menos dependente de recursos”, destacou.
Sobre o Porto de Rio Grande, segunda pauta do setor arrozeiro, Leite salientou que a logística não deve ser entrave, mas ser sim a grande oportunidade de escoamento da produção. “Sabemos da necessidade de novas áreas destinadas para garantir o escoamento da produção do arroz e também pela logística”, afirmou
Já sobre a questão dos tributos, o governador do Rio Grande do Sul se comprometeu a trabalhar conjuntamente com os setores para viabilizar as condições de melhor competir no mercado, agregando valor e assim viabilizar mais e melhores condições de produtividade. “Precisamos gerar mais renda, esta que gera capacidade de arrecadação, na medida em que esse setor contribui fundamentalmente nesta arrecadação do Estado”, ponderou.
A cerimônia também contou com a participação de representantes do setor como o chefe geral da Embrapa Clima Temperado, Clênio Pillon, do vice-presidente da Federação dos Trabalhadores na Agricultura no Rio Grande do Sul (Fetag/RS), Nestor Bonfanti, do presidente da Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul (Farsul), Gedeão Pereira, do secretário da Agricultura do Rio Grande do Sul, Covatti Filho, e do presidente da Embrapa, Sebastião Barbosa, além de outras autoridades políticas e representantes do setor agropecuário.
A 29ª Abertura Oficial da Colheita do Arroz apresentou o tema “Matriz Produtiva: Atividade Diversificada, Renda Ampliada”. O evento contou com patrocínio do Irga e Ministério da Agricultura, correalização da Embrapa e realização da Federarroz.