Deve durar até quarta-feira a restrição de atendimento na emergência do Hospital Fêmina, em Porto Alegre. A medida foi necessária devido ao incêndio que atingiu o sexto andar da instituição na tarde do sábado. A informação foi dada pelo médico do Hospital Fêmina, Desidério Fülber. De acordo com ele, as chamas danificaram janelas, o reboco e o piso. Será preciso fazer o reparo na parte que foi atingida, além da higienização. “Tudo será feito entre esta segunda-feira e terça-feira. A manutenção iniciou nas primeiras horas de segunda-feira. Quarta-feira deveremos reabrir”, destaca.
Todos os pacientes que precisaram ser transferidos estão estáveis em outros hospitais. Dois andares precisaram ser evacuados. Entre os pacientes, 17 bebês que estavam na Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) Neonatal precisaram ser encaminhados para outras casas de saúde. Oito deles estavam na UTI e nove deles exigiam cuidados intermediários. Dez gestantes de risco também precisaram ser removidas.
“O restante de nossa estrutura está em pleno funcionamento, as pacientes internadas estão sendo atendidas, nosso bloco cirúrgico não tem nenhum problema e realiza os procedimentos necessários”, complementa o profissional.
Uma reunião com o Grupo Hospitalar Conceição ocorreu na manhã desta segunda-feira, porém nenhum detalhe foi divulgado até o momento.
Polícia investiga o caso
O fogo iniciou, segundo Desidério, no local onde funcionava a ecografia e também o projeto Mãe Canguru (local para onde vão mães de bebês que não precisam mais ficar na UTI, mas necessitam ganhar peso para ter alta). Imagens das câmeras de monitoramento do local mostram um homem e, atitude suspeita no andar em que houve fogo. Os vídeos não foram divulgados pela Polícia Civil, que investiga o caso.
Pela manhã, o delegado titular da 10ª Delegacia de Polícia de Porto Alegre, Ajaribe Rocha Pinto, não atendeu as ligações para detalhar o avanço das investigações. Segundo Fülber, tudo agora está a cargo da polícia. “Não descartamos nenhuma possibilidade, entregamos todas as imagens e informamos tudo o que tínhamos para que eles tivessem conhecimento”, afirmou.
O médico garante que o Plano de Prevenção Contra Incêndio (PPCI) será providenciado. “Aqui é um local de alto risco, temos gás, oxigênio. Por sorte, nossos combatentes estão bem treinados e habilitados. Não tivemos nenhuma morte, nenhum dano grave e todos os pacientes estão bem.”
Conforme chefe da Divisão de Prevenção Contra Incêndios do 1° Batalhão de Bombeiro Militar (BBM) de Porto Alegre, major Ederson Lunardi, o Fêmina nunca teve Alvará de Prevenção e Proteção Contra Incêndio. “O PPCI deles estava tramitando pela legislação antiga. Em 2008 foi a última movimentação e em 2014 foi enviado ao Ministério Público, desde então não teve renovação da adequação”, explica. Essa situação não significa que a unidade não tenha prevenção instalada no local. “Tanto tinha que os brigadistas agiram com rapidez e evitaram um dano ainda maior.”
Atualmente, um processo demora cerca de 60 dias para ser finalizado, caso nenhuma adequação necessite ser feita pelo solicitante. O prazo é um pouco mais estendido devido a operação Verão.
Incêndio causa preocupação na equipe
“No fim do ano passado a sala 4 da cirurgia, localizada no nono andar, teve um princípio de incêndio no ar-condicionado. Foram momentos tensos porque os profissionais estavam em meio a um procedimento.” As palavras são de uma médica que atua no Fêmina, que prefere não se identificar por medo de represálias. Ela relata que a situação deixou os pacientes que aguardavam a cirurgia em alerta.
Além do incidente do fim de novembro, a falta de uma rota de fuga, caso seja preciso evacuar o prédio, causa ainda mais preocupação: “É impossível retirar todo mundo. Temos dois elevadores grandes, onde transportamos as macas, dois pequenos e escadas. O centro cirúrgico está isolado. É muito difícil, dependendo do que ocorrer, ficamos isolados”, reclama.
Fülber frisa que na ocasião, a equipe que havia feito a limpeza no equipamento esqueceu o pano utilizado no objeto – o que fez pegar fogo. “Foi imediatamente apagado e resolvido. A Brigada de Incêndio fez o uso de extintores e extinguiu, tanto que nada foi danificado. Depois do fato nós tomamos todas as providências cabíveis, revisamos os extintores e o treinamento dos colaboradores”, descreve.
A profissional de saúde conta que toda a rede elétrica do Fêmina é antiga. “Nós fazemos cursos de segurança, de evacuação, mas na prática, não temos saída. Estamos isolados nos andares superiores.”
O profissional reconhece que a rede elétrica é antiga e que a unidade tem uma subestação de energia, porém está subutilizada. “Precisamos de uma nova rede, trocar toda a fiação, a nossa tem 53 anos. Recentemente focamos na coluna hidrossanitária, que tinha risco de romper e inundar as alas. Nossos elevadores também são antigos, precisamos de manutenção”, pondera.
No verão, nenhum ventilador pode ser instalado adicionalmente para evitar a sobrecarga. “Sofremos muito nos períodos mais quentes, porém é um investimento alto que precisa ser feito, é necessário desativar setores para passar a fiação, enfim. A unidade é antiga, no passado as demandas eram outras.”