MP vê elo de suspeito em caso Marielle com grilagem

Vereador apontado na investigação nega acusações de envolvimento na morte da vereadora

Foto: Fernando Frazão / Agência Brasil

Investigação do Ministério Público (MP) do Rio revela que, nos últimos dez anos, o vereador Marcello Siciliano (PHS) participou de pelo menos 80 transações imobiliárias envolvendo a cessão de terras em Vargem Grande, Vargem Pequena e Guaratiba, zona oeste carioca, áreas sob domínio da milícia. Siciliano é investigado como envolvido na morte da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes.

Segundo documento sigiloso do MP obtido pelo Estado, uma das teses levantadas, ainda sem conclusão, é a de que  Marielle foi morta por ter atingido algum negócio de supostos sócios milicianos do vereador. Ele nega a acusação, que chegou anonimamente pelo Disque-Denúncia. Outro inquérito, também sigiloso, apura os homicídios.

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Em dezembro, ao jornal O Estado de S. Paulo, o então secretário de Segurança do Rio, general Richard Nunes, disse que o caso Marielle está ligado a milícias envolvidos em grilagem na zona oeste. No dia seguinte, foram cumpridos mandados de apreensão em endereços ligados ao vereador. O documento do MP reúne informações sobre Siciliano na tentativa de demonstrar seu elo com milicianos da zona oeste. Revela uma negociação entre Siciliano e um empresário de exploração de saibro, cujo irmão foi preso acusado de ser miliciano.

O vereador admite que já trabalhou com saibro e confirma a sociedade nos negócios, mas nega envolvimento com milícias e afirma trabalhar de forma legal.

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Uma investigação feita pelo Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), anexada ao inquérito, revela ainda que, em apenas de julho a dezembro de 2016, houve movimentação atípica na conta bancária do vereador. O valor – R$ 2.141.704 – foi considerado incompatível com seus rendimentos. Também foram identificados saques em espécie de valores altos, um deles feito pelo próprio Siciliano, de R$ 100 mil. Siciliano, diz o MP, figura como sócio em cinco empresas, três de incorporações imobiliárias.

O MP destaca o fato de que duas delas têm sede em endereço residencial. Outra não tem registro de funcionários, aponta o órgão. “As evidências permitem possível conclusão sobre existência de empresas de fachada”, diz o MP.

Ao jornal O Estado de S. Paulo, Siciliano afirmou que suas negociações de terra são feitas em cartório e que sua mãe é sua única sócia, em duas empresas, pelas quais gerencia negócios imobiliários. Disse que outras duas empresas citadas já fecharam e que a quinta nem estaria no seu nome. “Tudo meu tem escritura, está declarado no Imposto de Renda.” Ele também afirmou que era amigo de Marielle na Câmara.