Cesare Battisti está na Itália. A aeronave Falcão 900 do governo italiano aterrissou no aeroporto de Ciampino às 11h36min, conforme o jornal italiano Corriere Della Serra. O ex-ativista, preso na Bolívia no sábado, assim que desceu do avião, foi escoltado pelo Grupo Operacional Móvel da Polícia Penitenciária e levado para a prisão de Rebibbia, na periferia da capital italiana. Lá, ele ficará em uma cela sozinho, com seis meses de isolamento diurno, no circuito de alta segurança reservado aos terroristas.
À espera de sua chegada ao aeroporto de Ciampino, estavam o vice-primeiro-ministro Matteo Salvini e o ministro da Justiça, Alfonso Bonafede. “Com o retorno direto para a Itália da Bolívia, não é o acordo feito pelo meu antecessor com o Brasil, que era a extradição e trinta anos de prisão”, explicou Bonafede. “Então ele virá para servir prisão perpétua”, completou. O procurador-geral de Milão, Roberto Alfonso, explicou que Battisti pegará prisão perpétua sem a possibilidade de obter benefícios. E acrescentou que as investigações continuam para identificar a rede de apoiadores do ex-ativista.
Policiais, junto com os oficiais da prisão, escoltam o carro que, de Ciampino, tomará a Via Ápia e o anel viário para sair, em seguida, na via Tiburtina, e rapidamente chegarão a Rebibbia. Na prática, nenhum distrito da capital será afetado: as patrulhas policiais fecharão os cruzamentos.
Uma vida de fugas
Battisti passou cerca de 40 anos de sua vida em fuga quase permanente, com períodos de prisão e lutas político-judiciais para evitar a Justiça do seu país. Condenado à revelia à prisão perpétua na Itália, o ex-ativista, de 64 anos, passou por México, França e Brasil, onde a Justiça rejeitou em um primeiro momento sua extradição para a Itália para depois autorizá-la. Com a detenção, a Itália quer punir um dos últimos protagonistas dos “anos de chumbo” de violência dos anos 1970.
Poliglota de voz suave e conhecido por suas polêmicas, Battisti nasceu no sul de Roma em 18 de dezembro de 1954 em uma família comunista, mas também católica, como ele. Após passar várias vezes pela prisão por crimes comuns, no final dos anos 1970 entrou para a luta armada dentro do grupo Proletários Armados Pelo Comunismo (PAC).
“Tentar mudar a sociedade com as armas é uma estupidez, mas bom, naquela época todo mundo tinha pistolas”, declarou em 2011. “Havia guerrilheiros no mundo inteiro, a Itália vivia uma situação pré-revolucionária”, acrescentou. Após ser detido em Milão, Battisti foi preso em 1979 e fugiu em 1981. Em 1993, foi condenado à revelia à prisão perpétua por dois homicídios e por cumplicidade em outros dois, cometidos em 1978 e 1979, crimes pelos quais diz ser inocente.
Passou pelo México, mas encontrou refúgio na França entre 1990 e 2004, graças à proteção do ex-presidente socialista François Mitterrand, que se comprometeu a não extraditar nenhum militante de extrema esquerda que tivesse renunciado à luta armada. Assim como uma centena de militantes italianos dos anos 1970, Battisti refez sua vida em Paris. Trabalhou como vigia em um prédio e começou a escrever e publicar uma dezena de romances policiais com muitos elementos autobiográficos, que abordam temas como a redenção ou o exílio de ex-militantes extremistas.
Em 2004, o governo de Jacques Chirac decidiu pôr fim à “jurisprudência Mitterrand” e extraditá-lo. Apesar do apoio de várias personalidades, como o romancista Fred Vargas ou o filósofo Bernard-Henri Levy, a Justiça francesa recusou o recurso contra a extradição. Battisti, então, fugiu para o Brasil com uma identidade falsa, segundo ele, com ajuda dos serviços secretos franceses. Depois de três anos vivendo na clandestinidade, em 2007 foi detido no Rio e ficou quatro anos na prisão, onde fez uma greve de fome porque dizia preferir morrer no Brasil a voltar para a Itália.
Brasil
Em 2004, o governo de Jacques Chirac decidiu pôr fim à “jurisprudência Mitterrand” e extraditá-lo. Apesar do apoio de várias personalidades, como o romancista Fred Vargas ou o filósofo Bernard-Henri Levy, a Justiça francesa recusou o recurso contra a extradição. Battisti, então, fugiu para o Brasil com uma identidade falsa, segundo ele, com ajuda dos serviços secretos franceses.
Depois de três anos vivendo na clandestinidade, em 2007 foi detido no Rio e ficou quatro anos na prisão, onde fez uma greve de fome porque dizia preferir morrer no Brasil a voltar para a Itália. “Escrever para não me perder na névoa dos dias intermináveis, repetindo-me que não é verdade. Que não sou eu esse homem que os meios transformaram em monstro e reduziram ao silêncio das sombras”, diz em “Minha fuga sem fim”, livro escrito no cárcere.
Em 2009, o Supremo Tribunal Federal autorizou sua extradição, mas deixou a decisão final nas mãos do então presidente Lula, que acabou rejeitando extraditá-lo. Em represália, a Itália chama a consultas seu embaixador em Brasília. Em junho de 2011, Battisti é libertado e consegue obter a residência permanente no Brasil. Instala-se em Cananeia, litoral Sul de São Paulo, onde continua escrevendo e tem um filho.
Mas a Justiça brasileira toma decisões contraditórias. Em 2015, uma juíza da 20ª Vara Federal do Distrito Federal determinou a deportação de Battisti. No mesmo ano, ele se casa com a companheira brasileira Joice Lima em um camping de Cananeia. Dois anos depois, é detido em Corumbá (MS), na fronteira da Bolívia, acusado de querer fugir, e foi mantido monitorado com tornozeleira eletrônica por quatro meses.
Após a eleição, em outubro passado, do presidente Jair Bolsonaro, que prometeu extraditá-lo, Battisti voltou à clandestinidade após 40 anos de fuga até este sábado, quando sua prisão foi anunciada em Santa Cruz de la Sierra, a 900 quilômetros de La Paz.